Daniel 19/06/2013Entregando surpresasEm primeiro lugar há que se reconhecer o trabalho e dedicação do autor a este projeto, direcionado aos leitores que se “aventuram” (não há outra palavra) pelas sete volumosas partes de “Em Busca do Tempo Perdido”.
Mesmo que hoje em dia exista tantas páginas na internet sobre a obra – a própria wikipedia apresenta em português uma lista dos personagens principais – é sempre bom ter à mão um livro com todos os personagens citados em ordem alfabética, facilitando muito a localização e importância dos mesmos no enredo.
Eu faria duas observações: os personagens mais importantes, ou seja, aquelas que aparecem ao longo de quase todos os sete volumes, deveriam ter mais destaque do que os personagens figurantes, que simplesmente aparecem uma ou duas vezes em toda a narrativa e depois somem.
A segunda observação, e mais importante, é a seguinte: a definição destes personagens NAO deveria conter SPOILERS. Em vários verbetes, não é só contado quem é tal personagem, qual seu parentesco ou suas relações com outros personagens, mas também qual é o seu destino. Por vezes é revelado até a morte do personagem, como ela acontece e em qual parte da história! Para quem já leu todos os volumes isso não tem importância, mas quem está lendo (como é o meu caso, que especificamente neste momento terminei o quarto volume) muitas das surpresas que aguardariam o leitor são reveladas indevidamente, o que é uma pena!!!
Assim, este Dicionário Proust se por um lado ajuda bastante quem está lendo os livros e está meio perdido em meio a tantos nomes, por outro lado peca em revelar mais do que deveria.
Achei ainda muito interessante a análise na segunda parte do livro, “Os nomes na Recherche de Marcel Proust”. Me chamou a atenção para certas particularidades da narrativa que tinham me passado batido, como por exemplo no primeiro volume, “No Caminho de Swann”: na parte intitulada “Um Amor de Swann”, a narração é feita em terceira pessoa, diferentemente de todas os outras partes, que são narradas em primeira pessoa. Isso por que os fatos narrados em “Um Amor de Swann” aconteceram antes do nascimento do narrador, mas estão ligados a este e à sua história de forma simétrica e harmonicamente, como um todo. Não por acaso Proust se referia a sua obra como a grande catedral...
Fica a impressão que, por mais incrível que pareça, a releitura de “Em Busca do Tempo Perdido” deve ser uma viagem ainda mais fantástica que a leitura inicial.