Lu Oliveira 20/08/2023Porta de entrada para Virginia Woolf (contém spoiler)A brincadeira no grupo de leitura coletiva do @litsemfrescura foi que
"a Misses fez a Miley" e
"disse que ela mesma iria comprar as flores" , rs.
Mas, essa é apenas a frase inicial de "Mrs Dalloway", em que temos a perspectiva de uma mulher - da alta sociedade na Londres dos anos 1920 - sobre o que fica quando a juventude e a beleza passam, junto à necessidade de casar-se e ter filhos.
"Mrs Dalloway" se passa no decorrer de um dia, em que acompanhamos Clarissa Dalloway na organização de uma festa - que ocorreria à noite.
O Romance é narrado em fluxo de consciência, ou seja, estamos na cabeça da personagem, que ora vivencia cenas "em tempo real", ora recorda o passado ou planeja o futuro.
Embora não seja algo incomum de acontecer na nossa própria cabeça, de início, pode ser fácil se perder nos devaneios alheios.
Dentre os personagens que conhecemos, o único que, aparentemente, não tem conexão com Clarissa Dalloway, é Septimus Warren Smith.
Ex-combatente, traumatizado com os horrores da Primeira Guerra Mundial, ele tenciona tirar a própria vida - o que me fez pensar o quanto de sua própria carga emocional, Virginia Woolf pode ter colocado na construção desse personagem.
Por ser uma narrativa psicológica, o forte do livro, a meu ver, é o estilo de escrita de Virginia Woolf.
E Mrs Dalloway foi uma ótima porta de entrada para conhecê-la.
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*** SPOILER daqui para frente ***
E a grande SURPRESA foi, justamente, descobrir que o ponto vista não era exclusivamente da Mrs Dalloway.
Inclusive nas cenas em que personagens interagem, temos a perspectiva de cada um:
pensando o oposto do outro, agindo ao contrário do que pensam, tudo ao mesmo tempo distinto e conectado, o que achei fascinante!
Ainda assim, Clarissa Dalloway continua sendo a figura em evidência (e não à toa, a personagem título).
Tanto que os pensamentos de alguns personagens ficam até mais interessantes quando são sobre ela
(né Peter Walsh?).