phpeterparker 21/08/2024
"O cão tinhoso tinha uns olhos azuis..."
Essa obra foi a minha primeira vivência na literatura africana, é realmente muito expressiva, o autor consegue trazer as características da vida e cultura moçambicana de forma emocionante, e a sociedade sob o colonialismo português. Gostei de todos os contos, mas meus favoritos foram: "Nós matamos o cão tinhoso!","Papa, cobra e eu", que são protagonizados por crianças, e carregam a questão da infância naquele meio colonial, de "Dina", que conta do trabalho abusivo no colonialismo, "Rosita, até morrer", que é um conto extra, e é uma carta de uma mãe para o pai de sua filha, é escrita de forma tão peculiar e afetuosa.
"Depois ergueu a planta para se reanimar com o cheiro forte da terra negra que vinha presa às raízes esbranquiçadas"
"Eles podem matar-nos mas nós não temos medo de morrer..."
"A ligeira ondulação que lhe era imprimida desfazia-se, avançava e voltava a desfazer-se, murmurando o segredo dos búzios."
"Mas... quem sabe? E também, por que não acreditar? Por que não acreditar em qualquer coisa de giro 32 ? Como por exemplo que a formação dos miúdos fosse diferente da minha e que lhes conferisse uma condescendência para com aquelas coisas, uma condescendência que as minhas coordenadas emocionais não comportavam... E que talvez, eu sei lá, que talvez para com eles o tempo obrigasse a mais compreensão, mais carinho, sim, a mais humanidade... Porque talvez a velhota tivesse razão, há o tempo, o tempo..."
"Mesmo um pobre tem de ter qualquer coisa... Mesmo que seja só uma esperança!... Mesmo que ela seja falsa!..."
"Ô! Manuel tem esta nossa pele mas agora é branco, comprou ser branco nos papel, esquenceu os vovô dele que morreu, esquenceu filha dele que nasceu, esquenceu terra, esquenceu tudo."