Raquel 01/01/2024Um cantico para Leibowitz, de Walter M. Miller Jr
O livro é dividido em três partes. Em 'Fiat Homo', temos Francis, um noviço na ordem Albertina de São Leibowits, que está em penitência no deserto quando encontra um misterioso peregrino. É através dele que Francis encontra um abrigo nuclear, ossos e alguns documentos. A descoberta é vista com um terror imenso pelo abade. Temos aqui uma visão bem medieval, o segredo dos mosteiros, os perigos das estradas, a vida repetitiva dos monges copistas. Nessa parte a narrativa parece meio confusa porque, entremeada na historia de Francis, temos a explicação de como o mundo chegou nessa situação: A humanidade foi quase aniquilada por um holocausto nuclear, o chamado Dilúvio de Fogo. Medo, miséria, doenças, morte se espalham pelo planeta. O que restou da sociedade abomina a ciência e a acusa de ter acabado com o mundo. Dessa forma, a turba furiosa começa a perseguir cientistas, professores, técnicos, pessoas ilustres que guardassem qualquer tipo de conhecimento científico. É o período da Simplificação. Qualquer pessoa levemente instruída era acusada de ter causado o grande mal.
Em 'Fiat Lux', já no ano 3174, podemos chamar de uma era de Iluminismo. Começa a haver um maior interesse pela Memorabilia (os arquivos antigos preservados pelos monges da Ordem de São Leibowitz) e até invenções começam a surgir do esforço dos monges, com bastante resistência daqueles mais fundamentalistas. Mas a violência está sempre à espreita, sempre rondando os muros do monastério. E em 'Fiat Voluntas Tua', ano 3781, temos um mundo que avançou para ter colônias em outros sistemas estelares, que tem naves espaciais, mas que ainda luta, que ainda declara guerra e detona artefatos nucleares.
Publicado em 1959, 'Um Cântico para Leibowitz' era um alerta sobre a estupidez humana e sobre o esforço de algumas pessoas para manter acesa a chama da razão, da ciência, da lógica, tudo o que poderia ser perdido se bombas nucleares fossem detonadas. Combatente da Aeronáutica norte-americana na Segunda Guerra Mundial, vivendo de perto algumas tragédias marcantes e passando boa parte da vida sob as ameaças da Guerra Fria e do “ir pelos ares ao aperto de um botão”, Miller Jr. claramente externou no livro suas experiências, medos, frustrações e, principalmente, sua visão de futuro a partir daquilo que o mundo viveu na metade final do século XX. Certamente fica aí um alerta sobre nossa própria estupidez. Há também uma crítica muito pertinente sobre o medo que as pessoas têm a respeito da ciência. O medo nada mais é do que a incompreensão e o ser humano é uma criatura que sempre temeu aquilo que não compreende..
Fiquei desapontada com uma ponta solta: a figura do Judeu Errante, que traz certo mistério para a trama, mas eu não entendi a finalidade nem o desfecho desse personagem.
Todos os personagens principais são homens. Apenas perto do final é que aparecem mulheres no livro, mas são personagens secundárias.
Gostei mas achei a narrativa bem cansativa. Acho que o tempo todo eu esperei mais ação mas a historia é para reflexão... Lerei novamente no futuro.