aramisdiaries 04/08/2024
Navegar o próprio barco pode ser desafiador.
Acho que não há nada mais feliz do que ler um livro simples e, ainda assim, tão bem escrito e cuidadoso. Contos mais elaborados, fantasias mais mirabolantes e mistérios assombrosos são interessantes e acredito que minha próxima leitura está entre algo parecido do que citei anteriormente, porém, é necessário as vezes apenas crescer e acompanhar a vida de quatro mulherzinhas muito especiais, com gênios fortes e personalidades diversas e brilhantes.
Digo com certeza que foi um prazer acompanhar a vida da família March em quase 700 páginas de livro. Nem sempre foi empolgante, nem todos os capítulos me motivaram a continuar, as lições de vida, em sua maioria precisas e necessárias, eram desafiadoras para mim; eu as entendia, compreendia porque a Sra. March dava tais lições para as filhas e as fazia serem gratas sempre, no entanto, assim como elas, também achava difícil e me aborrecia por isso. Mas eu sempre continuava, sempre passava para a próxima página torcendo para o conselho seguinte ser ainda melhor, sempre lia animada para ver qual adaptação que tinha assistido era a mais fiel às palavras suaves de Louisa May Alcott.
No fim, a respeito das adaptações, conclui que nenhuma delas é tão boa o suficiente. As versões que assisti, de Gillian Armstrong e Greta Gerwig, são ótimas de sua maneira e sempre vai existir um espaço reservado no meu coração para ambas, porém, ambas também deixaram de lado detalhes e passagens valiosas que, em minha opinião, não deveriam ter sido esquecidas ou omitidas, além de mudanças aqui e ali que poderiam muito bem não ter sido feitas. Claro que posso entender e não julgo nenhuma das adaptações, é um livro grande e obviamente não dá para colocar tudo em um filme de uma ou duas horas.
Já que estou falando de questões que vão além da história, gostaria de elogiar a edição sensacional feita pela Martin Claret. Eu havia comprado ela por recomendação, um tempo depois de ter comprado o meu ?Orgulho e Preconceito? pela mesma editora, e estava confiante quando recebi, até eu começar o romance da Jane Austen primeiro e começar a temer pela minha edição de ?Mulherzinhas?. Contudo, enquanto a versão do clássico de Austen é simplória, estranha e com detalhes censurados, a versão de Alcott é linda! O cuidado com os desenhos, com a tradução, com todo o projeto de leitura é sensacional, um livro que, mesmo você não gostando, você ainda quer que aquela edição esteja na sua estante de tão bem feita que é. Um alívio para mim e para quem quiser comprar ou já comprou: pode confiar, é boa.
Devo dizer que, mesmo que eu tenha achado uma leitura muito confortável (o enredo e a passagem da história), o livro não apresenta altas aventuras, ele tem um ritmo que muitos podem considerar lento e até parado e eu, de fato, o parei algumas vezes antes de entrar na faculdade e não ter nem mais tempo e nem mais ânimo para continuar a leitura. Eu gostei, como já disse, eu sabia o que estava me metendo quando comecei a ler, no entanto, posso entender quem não conseguiu prosseguir e nem se agradou tanto.
No fim, ainda é um livro adorável sobre mulheres fortes e corajosas que, apesar das tempestades, estão aprendendo a navegar o próprio barco e são felizes assim; com suas vidas simples, seu passar de tempo e o amor que existe em seus corações. Que haja ainda muitas Beth, Jo, Meg e Amy March no mundo!