spoiler visualizarAdriele213 05/06/2024
É sobre o novo amor da minha vida
Mulherzinhas narrar ao longo das páginas a história das irmãs March mostrando as individualidades e evolução de cada uma. É um livro que faz você refletir sobre suas relações e como as vivências acabam nos moldando. Tem um capítulo em que as March e Laurie dizem como seria o futuro dos sonhos deles e é engraçado que no final eles foram para lugares completamente diferentes. Às vezes acreditamos que sabemos tudo sobre nós mesmos e o mundo, principalmente quando se é jovem, e que nunca iremos mudar e caso mude não será algo de grande impacto. Porém a vida é uma constante mudança de pensamentos e opiniões, uma roda gigante de altos e baixos, um turbilhão de emoções e apesar de pensarmos que sabemos como iremos reagir, sempre há algo novo sobre si mesma para descobrir. Essa foi a sensação que esse livro me trouxe. A beleza da vida. A certeza do incerto e como tudo pode mudar tão rápido. Me apaixonei por todos os personagens. Os defeitos deles só me fizeram gostar mais deles e da sua complexidade.
Eu não saberia dizer qual personagem é a minha favorita porque todas me tocaram de formas diferentes. Eu me senti como o Laurie sendo acolhido pela família e passando a amar a cada um dentro daquela casa de uma forma diferente. A Jo teve uma evolução muito incrível. Ela sempre foi tempestuosa e teimosa pronta para lutar por aquilo que acreditava. Não gostava de ter que se comportar e manter as aparências para a alta sociedade. Com o tempo ela foi aprendendo a ter paciência e a valorizar as coisas mais simples. Entender que tipo de livros gostaria de escrever e a priorizar o que tinha mais valor para ela. Jo não tinha paciência e achou que nunca ia encontrar alguém com quem ela quisesse se casar, acabou se casando com um professor paciente e ajudando várias crianças a encontrar seu caminho.
Quando ouvi sobre o livro sempre vi uma divisão muito grande entre quem amava a Jo e odiava a Amy e quem amava a Amy e odiava a Jo. Não vi o filme ainda mas no livro eu não entendo porque os leitores colocam tanto elas em lados opostos do tabuleiro. As duas são muito parecidas porém em fontes completamente diferentes. A Amy era mais delicada, modos refinados e queria se inserir na alta sociedade. Já a Jo era mais brincalhona, desengonçada e só queria escrever seus livros em paz. As duas são teimosas e cabeça dura. Nenhuma das duas estava disposta a dar o braço a torcer quando debatiam algo. Não vejo a Amy sendo a “sombra” da Jo dentro de casa, pelo contrário, o livro fala o quanto ela era amada e mimada por todos, inclusive a Jo apesar de ela ser quem mais pegava no pé. As briguinhas dela quando criança era obviamente coisa de irmãs.
A situação do manuscrito eu fico do lado da Jo apesar de entender que a Amy também só tinha 12 anos. Quando você é adolescente não quer ir para todos os cantos com sua irmã mais nova com você e não acho que é egoísmo querer viver algumas experiências só com gente da sua idade. Acabou sendo grossa, mas acho que foi algo de irmãs, assim como a birra que a Amy faz. A Amy sabia o valor que o livro tinha pra Jo e queimou mesmo assim. Ela foi mesquinha, assim como a Jo também foi em vários momentos do livro e por isso acho elas parecidas. A Jo obviamente ficou com raiva e eu ficaria com tanta raiva quanto ela. Alguns podem dizer que era só algumas páginas mas é só você trocar por aquilo que você mas gosta de fazer. No caso da Amy, os quadros dela, da Beth, as bonecas e da Meg, as roupas e luvas. O que me fez ficar um pouco irritada é que eles não dão espaço para a Jo sentir a raiva dela e ficam insistindo em que ela deveria perdoar logo. Se tivessem respeitado o momento da Jo a cena do lago não teria acontecido. Depois da situação com a viagem para a Europa, a própria Jo soube que a culpa era inteiramente dela e se esforçou para não transparecer sua tristeza para a Amy. Então deixe minhas garotas em paz. Amo elas infinitamente.
A Amy teve uma mudança muito grande. Ela era a mais nova, por isso era bem mimada. As coisas começaram a mudar depois da situação da régua na escola e quando foi passar um tempo com a Tia. A tia foi um pouco mais rígida e autoritária com a Amy e fez ela ter que fazer coisas que até aquele momento ela não tinha tido que se preocupar e valorizar a sua família ao se dar conta que nem todos seriam condescendentes com ela. Quando ela fala para Laurie “Eu quero ser boa ou nada” foi um momento de morte. A diferença entre genialidade e talento e o conformismo que talvez você nunca chegue lá é uma consciência muito dura.
Meg é uma graça. Ela é gentil, bonita e carinhosa. Se preocupa demais com as aparências e o conforto. Tudo que ela queria era um marido rico para poder se vestir bem e poder frequentar os ciclos sociais sem se sentir inferior ou envergonhada. Sinto que às vezes a Meg é meio esquecida no churrasco mas ela também é uma personagem que aprende ao longo do livro o quanto os ciclos sociais não tem tanto valor e pode acabar a prejudicando. O sentimento de só querer viver um romance e ter paz na vida as vezes parece um sonho distante e bobo mas é como a propria Meg fala "Só porque meus sonhos são diferentes do seu não significa que eles não tem importância". A relação dela com o John é muito fofa e é engraçado o momento em que a Jo fica desesperada, querendo que nada mude e que nenhuma delas precise crescer, e o Laurie está bancando uma de cupido, somente pelo caos que pode gerar. Os gêmeos são uns amores e acho muito engraçado a cena das geleias que ela acaba chorando por não conseguir fazer dar certo. Eu queria ter visto um pouco mais dela com a Amy porque no livro é dito que elas eram muito próximas.
O Laurie é um amor. Eu amo a relação que ele tem com os March, principalmente com a Jo, e como desde o início ele virou membro honorário da família. O fato de ele ser tão tímido chega a ser engraçado para o quanto ele é arteiro. As interações entre ele e a Jo são muito divertida e fica meio obvio que ela só enxerga ele como irmão desde o inicio do livro. Quando a Jo se afasta um pouco para tentar fazer ele repensar os sentimentos por ela e mesmo assim quando ela volta ele se confessar foi de partir o coração. Na fatídica cena eu estava que nem a Jo "Por favor, Teddy não". Eu acredito que os dois não dariam certo. Eles se amavam muito e tinham uma conexão linda. Os dois juntos era bonito de se ver, mas eles brigavam muito e não acho que conseguiriam alinhar os defeitos um do outro de forma que conseguissem ficar juntos e felizes. Ou ela ficaria infeliz por ter que frequentar a alta sociedade e participar dos eventos que o Teddy amava ou ele iria se ressentir dela por não acompanhar ele e se adequar.
"- Você... Você é... Você é muito bom para mim, e sou muito grata. Tenho muito orgulho de você, e gosto muito de você. Não sei porque não posso te amar como deseja. Eu tentei, nas não posso mudar o sentimento, e seria uma mentira dizer que te amo quando não o amo.
- Real e verdadeiramente, Jo?
Ele parou e pegou as duas mãos dela enquanto fazia a pergunta, com um olhar que ela não esqueceu
- Real e verdadeiramente, meu querido"
"- [...] Você sabe que é impossível se forçar a amar alguém.
- As vezes é possivel, sim.
- Eu não acredito que seja o tipo certo de amor, e prefiro não tentar."
Esse capítulo me destruiu. Eu me sentia como a Jo olhando aquele desastre que ela já sabia que estava por vim e que não tinha como impedir, mas sabia o sentimento do Teddy de amar alguém desesperadamente e tanto tempo e perceber que realmente não tem jeito. Eles dois sempre vão ser o meu império romano. Os dois tinham uma conexão de alma e eram a alma gêmea um do outro, mas isso não quer dizer que romanticamente teriam dado certo (tenho que dizer que eu daria qualquer coisa para os atores deles fizessem um romance porque eles tem muitaaaa quimica). A Amy e o Laurie por outro lado eram o que ambos precisavam. Eles se completavam naquilo que faltavam um no outro e se equilibravam. A Amy sabia como falar de uma forma que o Laurie ouviria e entenderia. E o Laurie aprendeu os momentos que ele tinha que ceder a Amy. Eles tinham que ficar juntos e são muito fofos. Eles tem o meu coração.
A Beth eu deixei por último porque é um tópico sensível. A Beth é a personagem mais querida e a que mais quebrou meu coração. Eu já sabia que ela morria mas isso não fez com que eu me apegasse menos a ela. Ela não querer tocar para as pessoas porque não se considerava boa o suficiente fez com que eu me identificasse muito com ela. Também tenho dificuldades em me comunicar com as pessoas (apesar de não ser tanto quanto a Beth) e eu só queria guardar ela em um potinho e proteger do mundo. Ela estava ali dando o melhor de si para ser gentil e paciente com todos. É impossível odiar ela. A relação que ela tinha com a Jo era muito bonita. Sempre que elas estavam juntas eu sentia meu coração ficar mais quentinho. "Ocorreu-lhe, mais amargamente do que nunca, que Beth estava se afastando lentamente dela, e seus braços instintivamente apertaram o mais caro tesouro que possuia". A Jo ter percebido que ela estava morrendo mesmo sem ela ter que falar foi um tiro no meu peito. O laço entre elas era tão grande que não precisavam colocar em palavras para se entenderem.
"Ela não podia dizer 'estou feliz em partir', pois a vida era muito doce. Só podia soluçar: 'Tento estar disposta', enquanto abraçava Jo, quando a primeira onda amarga dessa grande tristeza invadiu-as juntas"
"- Não sei como me expressar e não tentaria com ninguém além de você, porque não posso falar, exceto com a minha Jo."
"- Mais do que qualquer um no mundo, Beth. Eu pensava que não poderia deixar você partir, mas estou aprendendo a sentir que não a estou perdendo, que você será mais minha do que nunca, e que a morte não pode nos separar, embora pareça.
- Eu sei que não pode, e não a temo, porque tenho certeza que serei sua Beth ainda, para amá-la e ajudá-la mais do que nunca."
Esses capítulos me fizeram chorar tanto quanto uma cachoeira. Eu amo a Beth e a conexão delas mais ainda. Eu fiquei arrasada quando ela morreu. É triste que a Amy não estivesse por perto para pelo menos se despedir da irmã. Depois que a Beth morreu a Jo se fecha em si. Ela não tinha ninguém e estava sozinha. Nesse momento ela entende como seria bom ter alguém do lado. O "querer ser amada". Nesse momento a Jo me conquistou muito. Essas reflexões sobre não querer está sozinha e querer ter alguém com quem dividir o que ela estava sentindo me deu um aperto no coração.
Sei que tem uma certa divergência em relação ao final do Jo. Não sei se é verdade, mas li em algum lugar que a autora queria que no final ela continuasse como uma solteirona porém não teriam aceitado na época. Eu sei que não é todo mundo que interpreta assim mas, eu gosto de pensar que a Jo é lesbica e que virou uma escritora de sucesso. Sabe a tia Jo de AWAE? Gosto de pensar que a Jo seria algo parecido com ela. O final com ela casada não me desagradou. Achei eles muito fofos juntos. Não vou lembrar o nome dele agora, mas eu também gostei bastante dele e fiquei feliz por ambos se fazerem feliz. Mas sigo com o final dela sozinha sendo escritora como o final que mais agrada meu coração.
O livro é incrível e me pego em vários momentos pensando sobre ele e fazendo relações com a minha vida. Me vejo um pouco em cada uma das March e por isso elas tem cada uma um lugar especial no meu coração. O Teddy é um querido e guardo um lugar especial pro meu garoto. Só de escrever isso aqui já me fez querer ler o livro de novo.
"Você é a gaivota, Jo, forte e selvagem, desfrutando da tempestade e o vento, voando bem longe para o mar e feliz sozinha. Meg é uma pombinha, e Amy é como a cotovia da qual ela escreve, tentando se erguer entre as nuvens, mas sempre caindo em seu ninho novamente. Querida menina! Ela é tão ambiciosa, mas seu coração é tão bom e delicado! Não importa o quão alto ela voe, nunca se esquecera de casa. Espero voltar a vê-la, mas ela parece tão longe."