Resenhas - Girândola de Amores

Clau Melo 19/11/2024

Girândola de safadezas...
Nunca tinha ouvido falar deste livro do Maranhense e adorei!!!


No bairro carioca da Tijuca, na segunda metade do século XIX, Clorinda está prestes a casar-se com Gregório. Porém, justamente no grande dia, o noivo não aparece, deixando-a no altar. Um escândalo na roda social fluminense - o que deve ter acontecido? Por sua vez, Gregório, rapaz cobiçado da côrte, é raptado por um respeitado conde para avisá-lo de que uma polpuda herança o espera em Portugal. E o casamento com Clorinda? Gregório não pode casar-se e partir no dia seguinte? Não. Incrível - ou tragicamente -, Clorinda e Gregório são irmãos. O romance, então, passa a girar em torno desse grande mistério, desvelando todos os fatos do passado que explicam o presente. Cada personagem tem uma participação importante. O final disso tudo, é bom avisar, pode não ser exatamente como aparentava ser. "Girândola de Amores" traz ao leitor personagens pouco idealizados e muito humanos, com uma forte discussão sobre as doenças mentais. As descrições paisagísticas do Rio de Janeiro daquela época, mais especialmente dos bairros do Rio Comprido, Tijuca e Botafogo, também são o ponto forte desta obra primorosa de Aluísio Azevedo. Uma leitura imperdível, vasta e profunda.

Pedro Bastos 27/12/2011

Da literatura clássica brasileira, um dos melhores
"Girândola de Amores" foi lançado inicialmente em 1882 com o nome de "Mistério da Tijuca", e, hoje, é um livro raro. Consegui com sacrifício uma edição de 1973, da editora Livraria Martins, o que me pareceu ser uma das mais recentes, de acordo com pesquisa em sebos e na Estante Virtual.

"Girândola de Amores" é um romance vasto e profundo, embora pouco romantizado. Diferente de José de Alencar, que idealizava por completo seus personagens, Aluísio Azevedo explora os defeitos e as negatividades de todos os personagens, ora para explicar o enredo da estória, ora para dar-lhes um fim e/ou justificar seu status quo.

No primeiro capítulo, acompanha-se o casamento mal-sucedido de Clorinda, abandonada por Gregório, o noivo, que, na verdade, foi raptado. De antemão, o leitor vai supor que "Girândola de Amores" trata apenas do drama dos dois personagens, e a cada página lida, prova-se o contrário. Clorinda acaba por transformar-se em uma personagem quase terciária, embora seja ela uma das maiores afetadas pelo tal do "mistério".

"Girândola de Amores" passeia por diferentes escalas temporais, sempre com uma quantidade considerável de personagens. Nenhum é inútil; todos têm uma participação na estória, fazendo com que o leitor tenha de administrá-los bem na memória. Os fatos são fragmentados, repletos de digressões bem sinalizadas pelo autor.

Outro fator atrativo de "Girândola de Amores" são as descrições das paisagens cariocas no século XIX. Os personagens passeiam por arrabaldes tradicionais da cidade, retratando de forma interessante os costumes e o cotidiano da côrte nessas regiões específicas da então capital.

Em algumas partes, "Girândola de Amores" pareceu ser cansativo, embora tenha me cativado do início ao fim. Minha leitura foi voraz, alimentada pela ansiedade de saber mais e mais do que aconteceria nos próximos capítulos. Vale ressaltar que o romance fica interessante justamente pelo fato de se afastar dos personagens, à primeira vista, principais. As tramas multiplicam-se, entrelaçam-se, dinamizam a leitura, tornando-a cada vez menos previsível. Recomendo fortemente!