Betodepoa 07/11/2021
"Filhinhos, é chegada a última hora. Ouviste dizer que o Anticristo deve vir; e já vieram muitos anticristos: daí reconhecemos que é chegada a última hora. Eles saíram do nosso meio, mas não eram dos nossos. Se tivessem sido dos nossos, teriam permanecido conosco." (1 Jo 2, 18–19)
O Anticristo, “o filho da perdição, o adversário ‘que se levanta contra tudo que seja Deus’” (2 Ts 2, 3-4), foi uma criação da própria Igreja, uma espécie de epíteto que era lançado contra qualquer entidade que pudesse representar uma ameaça a sua hegemonia doutrinária ou a suas pretensões políticas.
O de Nietzsche quer ser apenas a antítese do cristão e dos seus valores mais preconizados -a compaixão e amor abnegado; representa o ímpeto, o merecimento, a integridade, o destemor e o amor-próprio; é algo que lembra muito o seu Zaratustra, o super-homem.
"Este tipo de elevado valor já existiu por mais de uma vez; [...] nunca como um tipo desejado. Pelo contrário, foi precisamente o tipo mais temido [...] -e esse temor engendrou o tipo inverso, desejado, criado, conseguido: o animal doméstico, a rês gregária, a enferma besta humana -o cristão." (parte III, p. 15)
Com um estilo sanguíneo, Nietzsche quer destruir o cristianismo a “marteladas”.
Diz na página 17: “O cristianismo tomou partido de tudo o que é fraco, baixo, incapaz, fez da oposição aos instintos de conservação da vida forte, um ideal.”
Bate forte nos sacerdotes.
"É necessário que digamos quem consideramos como nossa antítese: -os teólogos e todo aquele que tem nas veias sangue de teólogo, -toda a sua filosofia... [...] o padre tem na mão todas as grandes noções (-e não só na mão!), e lança-as com um benévolo desprezo contra o ‘intelecto’, os ‘sentidos’, as ‘honras’, o ‘conforto’ [confronto?], a ‘ciência’; vê tais coisas ‘abaixo’ de si como forças perniciosas e sedutoras, acima das quais o ‘espírito’ plana, numa abstração pura [...]. Enquanto o padre passar por ser superior -o padre, esse caluniador, esse envenenador da vida ‘por profissão’- não haverá resposta para a pergunta -o que é a verdade?" (parte VIII, p.21)
E, por aí, vai ...
O livro discorre também sobre vários temas correlatos: fala do judaísmo e da lógica do pecado, da degenerescência moral do cristianismo, da superioridade da cultura greco-romana, etc.
Agora, sobre Jesus diz o seguinte:
"Esse santo anarquista que chamava o povo mais baixo, os réprobos e ‘pecadores’, os tchandala do judaísmo, à resistência contra a ordem estabelecida -com uma linguagem que ainda hoje conduziria à Sibéria, a acreditar nos Evangelhos [...]. Isto levou-o à cruz: prova-o a inscrição que sobre ela existia. Morreu por seus pecados." (parte XXVII, p. 56)
Jesus acabou com a lógica judaica do pecado (Pecado-Arrependimento-Perdão), o instrumento de sujeição inventado pelo sacerdote judeu.
"O ‘pecado’, toda a relação de distância entre Deus e o homem, fica suprimido – ‘essa é a boa nova’. [...] “O ‘arrependimento’, a ‘oração pela salvação’ não são caminhos para Deus: ‘só a prática evangélica’ conduz a Deus; ela, justamente, é ‘Deus’!" (parte XXXIII, p. 66 e 67)
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