Nathan 27/09/2021
O original livro clichê do Calvino
Tem uma coisa meio paradoxal nesse livro. Ele consegue ser criativo e repetitivo ao mesmo tempo. Descobri depois que o Ítalo Calvino fazia parte de um grupo de escritores que gostavam de "restrições criativas". Ou seja, que se impunham umas condições absurdas na escrita para forçar os limites da criatividade. Fez todo sentido pra mim! Se colocar a obrigação de criar literatura a partir de explicações científicas sobre a história do universo é uma restrição e tanto. No entanto, em alguns momentos me pareceu que ele perdeu a oportunidade de se deixar ir aos lugares imprevistos onde essa condição poderia levar ele. Ele escreveu histórias em eras onde não fazia sentido em pensar em seres vivos, apontou esse fato, no entanto ele criou personagens que interagiam. Onde não haviam cores, no entanto criou imagens, etc. Parecia que em cada conto ele chegava a apontar o ineditismo do contexto em que estava pensando, mas depois ia puxando mais e mais para as opções mais conservadoras, criando muitas vezes umas narrativas meio clichê, umas histórias de amor batidas.
Claro, uma história de amor clichê num cenário absurdo é melhor do que num cenário banal, mas não deixa de ser clichê. O livro é interessante, levanta umas questões boas, mas tem esse problema, parece que mesmo com as restrições auto-impostas ele achou uma fórmula confortável demais pra produzir os contos. Enfim, ele bagunça um pouco as noções do que é ser criativo. Parte de uma ideia criativa mas faz uma execução meio sem inspiração.
Como ficção científica, ele tem a grande qualidade de não fazer muito sentido e falar várias coisas que cientificamente não fazem muito sentido. Não gosto de ficções que se explicam demais, acho que fazem muito melhor proveito as ficções que usam a ciência como inspiração do que como manual de instruções. É o caso aqui.