spoiler visualizarKamila 10/07/2012
Adorável surpresa
Um homem cego, sua cão-guia, e uma lição de parceira. Michael Hingson, Roselle e 11 de setembro de 2001.
"Adorável heroína" não correspondeu às minhas expectativas, e quero deixar claro que isso não é uma crítica negativa ao livro, a questão é que esperava um desenrolar da história diferente daquele apresentado na sinopse de seu verso.
Ao ler trechos como "ajudando dezenas de outras pessoas a escaparem de um prédio prestes a desabar" e "destroços caindo e pessoas aterrorizadas em torno dele e de seu cão-guia" esperei um livro meteórico, daqueles que você prende a respiração para ler, ou trágico, que me fizesse chorar no fim, do tipo que relataria inicialmente a vida de um homem cego que realiza tarefas cotidianas com a sua cão-guia e que, em algum momento em páginas bem adiante, o clímax: a tragédia do 11 de setembro. Entretanto, fui pega de surpresa com o atentado sendo descrito no início da história, o que me fez imaginar o que mais poderia ser dito nas mais de 200 páginas seguintes. Provavelmente o relato seria mais emocionante e detalhista do que imaginei, o que motivou minha leitura ainda mais.
Descobri que na realidade Michael Hingson mescla a história do World Trade Center com pequenas passagens sobre sua vida destacando as felicidades e infortúnios a que ele foi submetido. Com certeza é um meio de prender a atenção do leitor, como uma novela que corta a cena em momentos estratégicos para que queiramos saber o que vem a seguir, mas pode ser um problema para pessoas ansiosas que desejam saber a sequência da aventura nas Torres Gêmeas do homem e sua cachorra Roselle, correndo o risco de que algumas páginas sejam puladas. Pessoalmente, não vejo problema em "fracionar" a leitura dessa maneira, o importante é que em algum momento o leitor volte àquelas páginas para descobrir a história de Mike e as concepções de uma pessoa cega, muitas das quais poucos fazem ideia. A estrutura do livro realmente é diferente do convencional, mas cada palavra não deve ser desperdiçada na leitura.
A surpresa que o livro me causou foi que Roselle não é tratada como heroína da maneira que o título remeteu-me, mas sim ocorre um retrato da vida no ponto de vista de um cego. A cachorra ganha seu destaque, impressionante a forma como os animais lidam tão melhor com o risco do que nós, especialmente o cão-guia, que recebe um treinamento impecável e possibilita aos deficientes visuais condições que às vezes nem aqueles que enxergam possuem.
A tragédia do 11 de setembro é relatada de maneira totalmente diferente daquele roteiro que estamos acostumados a acompanhar em documentários e noticiários, tudo é tratado sob a visão de alguém que estava dentro da Torre Norte descendo 78 andares sem parar. Tudo que Michael viveu ao longo de sua vida parece fazer sentido naquele dia fatídico de outono, assim como o que Roselle representou desde que tornou-se parceira dele.
Recomendo que leiam o livro sem expectativa alguma em cima de uma aventura emocionante ou trágica, sem esperar por um livro que viraria uma franquia com sucesso de bilheteria. Minha sugestão é que abracem esse livro de mente aberta e observem detalhes que fazem com que situações do dia-a-dia sejam absorvidas positivamente de maneira que sejam usadas nos momentos de necessidade, como Mike fez. É uma leitura muito tranquila e agradável para todas as idades, mas que certamente fará alguma diferença sobre suas percepções a respeito dos deficientes visuais e do trabalho de cães-guia.
Vale a pena!