Humberto.Yassuo 23/01/2017De fato, é uma biografia de muita qualidade e minuciosa quanto às explicações sobre as raízes dos detalhes mais significativos de Garrincha (por exemplo, a sua árvore genealógica, a vida em Pau Grande, os hábitos libérrimos neste município que nunca deixaram de influenciá-lo, o escorço biográfico de Elza Soares). O Garrincha e a Elza são tratados com dignidade pelo Ruy Castro, que desconstrói muitas inverdades sobre eles, o que era necessário sobretudo por terem sido alvos da imprensa conservadora e do segmento reacionário da sociedade na época. Considero este detalhe um ponto alto nesse livro, dentre outros.
Como não poderia ser diferente, o viés principal abordado no livro é o alcoolismo e o comportamento simplório e amador do atleta Garrincha mesmo no auge de sua carreira, o que é paradoxal para um jogador de tamanha genialidade.
Apenas senti falta de uma abordagem sobre uma questão racial. Isso ocorre brevemente nas páginas dedicadas ao Didi, na parte em que jogava no Fluminense. Fiquei na dúvida se fatores raciais também não agiram contra Garrincha e Elza em alguns momentos de suas vidas. Talvez sem perder o foco, isso poderia ser abordado, se fosse o caso.
Mas isso não diminui a qualidade da obra. Uma biografia honesta e à altura do valor deste único e incomparável jogador. Muito se diz que jamais haverá outro jogador como Garrincha. São vários outros sujeitos notáveis e ao mesmo tempo autodestrutivos. Mas, provavelmente, jamais haverá outro astro (de qualquer segmento), que mesmo nos seus momentos de glória e reconhecimento público, permaneceu com seus hábitos simples, de modo a agir como se desconhecesse a sua própria importância.