spoiler visualizarDebinha 03/03/2022
Noite em claro, de Martha Medeiros
Numa noite chuvosa, 12 de junho, na solidão de seu apartamento, uma jornalista começa a escrever um livro sobre sua vida amorosa. Recordações do passado, champanhe, chocolate, fingir que nada importa mesmo que importe, e um psicótico que envia emails por acreditar que a jornalista estava apaixonada por ele ( porque no primeiro email de resposta, ela agradeceu pelo contato, finalizando com um abraço), são gatilhos para o começo do livro.
O primeiro casamento foi com Roger, o homem dos seus sonhos : inteligente, humorado, sofisticado, mas a sua paraplegia, com o tempo, afetou a vida amorosa do casal ? Ele era o fomentador do prazer, eu era a receptora e a mártir.?
O segundo casamento, atual, de 8 anos, era com Carlos, jogador de futebol, que vive na estrada, que por coincidência estava trabalhando na cidade onde aconteceu a primeira vez da jornalista e um quase estupro. Seu trabalho se resumia em entrevistar pessoas desconhecidas socialmente que falem de seus dramas diários e inventem histórias quando não há nada de interessante em suas vidas que possam entreter o público do programa de TV a cabo.
Ao decorrer da escrita de seu livro, a jornalista recorda suas experiências sexuais dos primeiros relacionamentos rápidos até o seu casamento atual; e no meio desse flashback , o psicótico do email, Eder, ameaça ir até sua residência, caso a mesma não responda seus emails. Apesar da emissora de TV em que trabalha, não ter autorização para fornecer o telefone e endereço de seus funcionários, a dúvida quanto a isso surgiu após a fala de sua secretária ? existem sites que fornecem todos os dados de uma pessoa, não importa se é jornalista ou se é vendedora de coco na praia?.
No dia seguinte, chuvoso, quase bêbada, a escrita do livro continua, pois o combinado com si próprio era ?meu livro vai durar a duração desta água despencando lá de cima.? Uma visita aparece à sua porta, conhecida por ela e inesperada pela situação em que estava vivenciando em sua vida. Dúvidas, mentiras, descobertas, desejos, envolvem o clima dessa visita pós- dia dos namorados.
?E no final das contas é tudo escuro, é sempre noite, e quase tudo é bobagem. A gente fica sozinho, bebe demais, lembra demais, pensa demais, bate em portas estranhas, há uma festa, a festa termina, não há final feliz ou infeliz, não há final, o dia amanhece, a chuva para, se aconteceu alguma coisa ou nada aconteceu, não faz diferença. Aos poucos a gente acostuma e se enxerga.?
Agosto, três semanas após o começo do livro e a visita que abalou seu psicológico, ?O primeiro trovão foi a senha: é hora de escrever a segunda parte, meu ?era uma vez? de novo. Sozinha em casa, com uma garrafa de champanhe gelado...?
O reencontro com seu namorido, jogador de futebol, após essas três semanas, se resume a um beijo, até logo e a volta do relacionamento à distância até o próximo reencontro. Um relacionamento baseado em sexo, sem objetivos em comum, afinidade e interesse pela vida um do outro. Uma união abalada por um aborto espontâneo, cuja condenação começou com a raiva e continua com a ausência, apaziguada pelo prazer sexual dos reencontros que os mantém conectados. A chuva diminui e o livro chega ao final.
Na história da autora Martha Medeiros, a personagem principal ( jornalista) não tem nome, e consequentemente não tem uma identidade, ela se rotula como uma mulher sem sentimentos ( habitada por uma pedra), que ama é é amada apenas com o corpo, boa por ser idiota em confiar em quem não deveria, melancólica, quase bêbada e infeliz no amor e na profissão.
Leitura rápida, fácil de entender, contada pela própria personagem principal, assemelhando-se a um desabafo íntimo com a melhor amiga.