Nara 20/04/2021
Sula uma aula sobre amor próprio
"Ser bom com alguém é igual a ser cruel. Arriscado. Não se ganha nada com isso."
Minha primeira vez lendo Toni Morrison e, me apaixonei por ela e por Sula, essa mulher que é um acontecimento nessa narrativa.
No artigo Vivendo de Amor da Bell Hooks parte da definição de M. Scott Peck sobre o amor como: “a vontade de se expandir para possibilitar o nosso próprio crescimento ou o crescimento de outra pessoa”, sugerindo que o amor é ao mesmo tempo “uma intenção e uma ação”.
E vai propor que a gente pense a experiência do povo negro a partir dessa definição, para entender o quanto as estruturas racializadas e historicamente opressivas, construíram sistemas de dominação, que utilizam o racismo e o sentimento de inferioridade para internalizar e permear as habilidades de querer e amar do povo negro.
Me lembrei dessa leitura, porque a Bell cita as personagens dessa narrativa, analisando as suas afetividades, cuja obra ela dava aulas a respeito.
E a afetividade é o ponto mais alto porque ela é trabalhada aqui de diversas formas: na amizade, maternidade, na relação das mulheres com a própria sexualidade, com o corpo, com o crescimento pessoal, umas com as outras, com a comunidade.
E aqui cabe a famosa frase de Angela Davis:“Quando a mulher negra se movimenta, toda a estrutura da sociedade se movimenta com ela” - Porque toda a movimentação de Sula, gera impacto no lugar onde ela nasceu, do qual ela parte, mas, volta. E a volta, ocorre como um acontecimento marcante e inesquecível para aquela cidade, uma chuva de tordos.A simbólica forte que a ave representa:territorialidade, atitude, inteligência, poder. Características da Sula.
A construção narrativa de Morrison é incrível, parte de um contexto histórico, meados dos anos 20 para contextualizar personagens, seus traumas, o preconceito racial nos EUA daquela época, como esse pensamento permeava (permeia) as subjetividades e afetividades das pessoas negras da comunidade do Fundão, o que seria uma "periferia" da cidade de Medallion.
A família de Sula, provém de uma matriarca, Eva (a avó), uma mulher entendida como forte e reconhecida por essa comunidade.
Eva vai compreender afeto a partir da luta pela sobreviência. Enquanto, a filha Hannah e mãe de Sula, quando questiona se um dia, ela amou seus filhos, carrega uma perspectiva do afeto, como necessidade emocional.
Hannah é livre em relação a própria sexualidade, tal como será Sula,algo impensado nos moldes da sociedade dos anos 40 (fase em que está adulta).
Ela cresce ao lado de Nel, que vem de uma criação e ideia de lar, completamente oposta a dela, muito mais passiva. Ambas vão compartilhar um segredo pelo resto da vida.
É um livro sobre amizade entre duas mulheres, mas, principalmente, sobre amor próprio. Não essa ideia corrosiva de que amor próprio como se não tivesse defeitos.Ao contrário, Sula é vista de forma negativa, por experimentar a liberdade de se amar, ser sincera em relação a ela mesma e o que sente se cultivando para além das validações alheias. Apesar da negação de afeto das pessoas para com ela. Muitos a temiam por não compreender esse amor.