Ana Luiza 16/11/2021Um estudo brilhante sobre a sociedade e do papel feminino e negroLançado em 1973, o segundo romance de Toni Morrison chegou ao Brasil pela editora da Companhia das Letras com tradução de Débora Landsberg neste ano. E o que falar deste livro depois de todo impacto de “O olho mais azul”?
Sula é um livro denso, apesar de pequeno. Talvez para quem leia o resumo dele, ache os eventos da vida particular sonsos, mas posso garantir que Toni Morrison faz um brilhante estudo sobre a sociedade e do papel feminino e negro.
Como bem dito em seu discurso do nobel, a ficção nunca foi entretenimento a ela. E em Sula, esta filosofia se destaca mais uma vez. O retrato pintado de uma mulher que ousa ultrapassar limites e correr para sua liberdade pode chocar ao leitor, principalmente por esta mulher não querer ser “cômoda” ou mesmo “agradável”. Diferente de “O olho mais azul”, o sentimento que domina a narrativa é sufocante e de angústia, transbordado das dificuldades de mudanças nas vidas dos moradores do Fundão, que tem seus papéis sociais bem limitados, numa sociedade racializada e segregada.
Sula não é uma leitura simples e cômoda. A narrativa não perde tempo se explicando ou enfeitando para tornar a realidade das pessoas mais suave. A escrita de Toni não é isenta e ao mesmo tempo que nos narra, cutuca os leitores a fazerem os questionamentos importantes sobre culpa, segregação racial, pobreza e sexualidade que permeiam a vida das mulheres que marcam a trama: Sula, Nel, Eva e Helene.
Antes de recomendar, quero deixar um comentário sobre a tradução: mesmo com as perdas de não ler o original, acredito que o trabalho feito aqui foi bem alinhado e respeitoso. Gostei muito da escolha da tradutora em não tentar emular o vocabulário que a obra original tem.
Minha única orientação para leitura deste livro é entender que é uma obra não esperançosa, mas com grande potencial para aqueles que resolverem se aventurar.
site:
http://gataleitora.blogspot.com/2021/11/sula-resenhista-convidada.html