Fê 26/09/2014Eu não sei porque, provavelmente por causa do nome em português (que dessa vez, vem bem a calhar, é perfeito), mas eu achava que esse livro era uma chick-lit bem açucarada. (Pausa para facepalm). Eu não poderia estar mais enganada, o livro é o posto disso: um thriller psicológico perturbador.
Tudo começa na manhã de quinto aniversário de casamento de Nick Dunne e Amy. Tudo corre normalmente, até que Nick recebe uma ligação de um vizinho dizendo que a porta de sua casa está aberta, e o gato na varanda. Nick volta para casa, e chegando lá descobre que sua esposa desapareceu, e a casa revirada indica que houve algum tipo de luta, e as coisas podem não ter terminado bem. Começa aí o inferno de Nick.
No meio do mistério do desaparecimento de sua esposa, com todas as pistas apontando para ele, ele também não ajuda, mostrando um comportamento estranho, muito relaxado, chegando às vezes a sorrir de modo irônico. Nick nega tudo, mas entre tantas mentiras e meias-verdades, é difícil acreditar nele. Nick e um mentiroso compulsivo, alienado e além disso um mamma´s boy de primeira. Não consegue fazer nada sem que tenha uma mulher por trás. Sério, mais um pouco precisa que mastiguem a comida para ele. Nick segue pela vida simplesmente por inércia, mais nada. Isso até que o desaparecimento de Amy sacode sua existência.
Inteligente e com futuro promissor, Nick vê sua vida desmoronar quando é dispensado da revista onde trabalha em New York e é forçado a voltar para sua cidade natal no estado do Missouri, às margens do rio Mississipi para ajudar a cuidar da mãe doente. e do pai com Alzheimer, mas Nick despreza o pai, e na verdade tem um medo quase paralisante de se tornar como ele: um bastardo misógino. A partir daí, Nick entra numa apatia irreversível. Ele claramente não se encaixa na cidadezinha pequena e desolada pelo desemprego em que está, e nem bar que gerencia com a irmã gêmea Go (apelido de Margo), sonho de infância.
E, de repente, a monotonia é quebrada de modo brutal pelo desaparecimento de Amy e o circo midiático é formado. Nick agora tem que se virar para mostrar que é inocente em meio a tantas mentiras. E ajudando Nick está Go, sua irmã gêmea. Go é uma mulher forte, determinada e acredita no irmão sem questionamento. Ela fica a seu lado o tempo todo.
E do outro lado, Amy. Amy é a esposa ideal, atenciosa, apaixonada e dedicada ao marido. Inteligente e dona de um humor sarcástico, ela sofre um bocado com Nick. Ela vai com ele para o Missouri contrariada. Ela é a perfeita cosmopolita, descolada e sofisticada. Ela vem de uma família rica, sempre estudou nas melhores escolas e é linda. O tipo de mulher que causa inveja e desperta as paixões mais tresloucadas. Mas isso vem com um preço: seus pais são autores de uma coleção de livros infantis, Amazing Amy (não sei como está em português, já que li em inglês, mas seria algo como Incrível Amy. E é esta a sacada do título do livro), menina exemplar e popular. Na verdade, Amazing Amy é um alter-ego da própria Amy. E, apesar de a coleção de livros estar em baixa há muitos anos, é por isso que o seu desaparecimento causa tanto furor. Na verdade, Amy é a grande personagem do livro, mas não posso desenvolver mais para não dar spoiler.
A narrativa se divide entre Nick e entradas de diário de Amy, e os capítulos se interligam. Quer dizer, se em um menciona um fato, no outro, por outro ponto de vista, ele se desenvolve. A história flui, cada capítulo é uma surpresa, e nada, absolutamente nada, é o que parece. A trama é cheia de reviravoltas, e há mais personagens interessantes, mas não posso falar deles sem dar spoilers. É um livro instigante e perturbador. O final é surpreendente, mas sinceramente eu não gostei muito, acho que poderia ser melhor. O livro vale e muito pela desconstrução dos personagens, muito bem trabalhados. E agora é esperar para ver se Ben Affleck consegue transportar Nick para a tela.
Trilha sonora
Eu sei que parece que não, com a batidinha suave a a voz sussurrada de Christopher Carabba, mas Hold on, do Dashboard Confessional é perfeita, preste atenção na letra. Também Jenny was a friend of mine, do The Killers, Seven devils (também cai perfeitamente) e Heavy in your arms, de Florence and the Machine e finalmente outra que parece feita para o livro: Bones, do Ms Mr, confira a letra.
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