Rayan GQR 12/11/2019
"A ignorância é uma benção" ou seria a loucura?
Este é um ótimo livro para se ler após ter lido a República de Platão, não é estritamente necessário, porém, além das várias referências aos gregos, é também muito interessante observar a maneira como um é contrário ao outro.
Na obra de Platão vemos Sócrates criar uma ideia de certa forma utópica de que só através da sabedoria o homem será completo e feliz, enquanto Erasmo, através da personificação da Loucura, diz o contrário, utilizando uma técnica similar a Sócrates onde tudo que não é uma coisa (nesse caso a sabedoria) é a outra (loucura), tudo que não se encaixa como sabedoria ele denomina loucura, dessa forma mostrando uma dissertação interessante de como a busca pela sabedoria pode nos tornar menos felizes e satisfeitos do que se não a procurássemos, explica também ele que ambos os que procuram a verdade e os que acreditam em enganações e loucuras como verdade seriam igualmente felizes, não fosse o fato de que é muito mais fácil alcançar-se o segundo, só é necessário ser ludibriado ou ludibriar-se, coisa que o ser humano já faz constantemente, como a própria Loucura diz no livro. Esse pensamento é atual e ajuda inclusive a entender o fenômeno da pós-verdade, pois a verdade é mais difícil de se achar e sua busca pode nos deixar mais infelizes, porém uma mentira convincente é uma resposta mais fácil e que nos agrada mais, algo exposto nessa obra.
Além de toda essa dissertação inicial, Erasmo de Rotterdam não perde a oportunidade de criticar as mais diversas autoridades na segunda metade deste livro, padres, monges, príncipes, o próprio Papa, são todos alvos de suas críticas não tão bem disfarçadas de elogios, mostrando como é necessário que sejam loucos ou seriam sobrepujados com suas responsabilidades.
Além de tudo, apesar de ter precisado pesquisar incontáveis palavras desconhecidas, a linguagem é relativamente fácil, há sim muitas palavras antigas e já não usadas, porém a construção de frase é simples e fácil de entender, sendo mais compreensível que a República de Platão, por exemplo, algo que é inclusive citado durante o livro, a Loucura nos diz que vai falar não de maneira culta e difícil, mas com uma linguagem mais simples e acessível, tornando assim bem mais fácil compreender, sendo apenas necessário um Google ou dicionário aberto para procurar termos mais antigos.