Milena Karla - Mika 29/10/2023
Fiquei sabendo que existe uma biblioteca/arquivo dentro de uma montanha ao ler este livro
Este é o terceiro livro que leio do Jostein Gaarder. Primeiro eu li O Mundo de Sofia (quando tinha 14 anos e estava perto de fazer 15, igual a personagem do livro, e foi um dos livros mais grossos que tinha lido até então; pela primeira vez, demorei mais de uma semana para ler um livro), daí li O Dia do Curinga (que gostei muito!), e agora, li A Biblioteca Mágica de Bibbi Bokken, que já estava na minha lista há anos.
Eu amei aprender mais sobre a Noruega! Como por exemplo, sobre a biblioteca que fica dentro de uma montanha em Mo i Rana que arquiva todos os livros, filmes, etc já produzidos na Noruega (só consegui encontrar detalhes ao pesquisar em norueguês no google - https://www.nrk.no/nordland/skal-bygge-100-nye-kilometer-med-hyller_-_-vi-skal-fylle-fjellet-med-gull-1.13731302) e os poemas curtos no livro são incríveis.
Quem mantém os dois pés no chão
não sai do lugar
– Tor Åge Bringsværd
Estava com saudade da escrita do Jostein Gaarder! Gostei muito do mistério, e principalmente do enorme amor e respeito pelos livros, expresso durante a história. Hoje em dia quase não se vê mais isso... A leitura e até a escrita de livros se tornou para muitos algo meramente comercial e de aparências, estratégias, e até ganância.
Onde está a magia de andar por uma biblioteca? Aquela reverência ao estar na presença das palavras escritas de autores que ainda estão aqui, e outros que não estão, mas que deixaram seus pensamentos e histórias conosco? E aonde estão os autores que se importam em contar histórias do seu coração de um jeito responsável, respeitando os leitores, e não com autoindulgência e desejo por 'fama e dinheiro o mais rápido possível'?
Poucas coisas me encantam mais que andar por uma biblioteca ou livraria bem abastecida, ler um clássico ou contemporâneo, e me teletransportar para outros tempos e mundos... Mas existe uma forma de fazer isso que é superior a outra. Quando você mesmo escolhe o que quer, ou um ser humano te recomenda um livro, é bem diferente de quando algum algoritmo te sugere um livro.
Sei que o livro não é sobre isso, mas acho que a sociedade atual recompensa demais o que não deveria, e as vozes mais sensatas, mais quietas, se calam, ou quando falam, não são ouvidas e divulgadas tanto quanto deveriam. É quase como se autores extrovertidos tivessem mais facilidade em ter sucesso, e seus livros têm capas coloridas e chamativas, com títulos que atiçam a curiosidade ou despertam o humor. Ou, autores que apelam para o "estranho", e acabam sendo vistos como cult. Mas e agora que todo dia são lançados dezenas ou centenas de livros assim, com excelente marketing? Como diferenciar um livro bom, de um livro bem divulgado com uma sinopse escrita por um expert em vender produtos? Encontrar bons livros hoje é um caso de tentativa e erro.
Esse livro do Jostein Gaarder não foi um 5 estrelas para mim, mas me lembrou de um tempo em que as histórias eram escritas porque precisavam existir, e não para virarem um "hit" que todos leem ao mesmo tempo. Histórias que eram escritas para durar, versus histórias da moda, que não acrescentam muita coisa.
E isso é vindo de uma pessoa que estudou biblioteconomia, devo acrescentar. Sempre amei os livros, e admirei os autores. Mas hoje vejo uma abundância de livros com muitas páginas que não dizem quase nada... Falta riqueza no conteúdo, profundidade, história e personalidade. E como as pessoas estão lendo menos, elas não sabem diferenciar uma boa história bem escrita de uma sem conteúdo e com faltas.
Acho que se o objetivo do Jostein Gaarder com esse livro foi fazer o leitor valorizar os livros, os autores que realmente se esforçam para escrever uma boa história, e as bibliotecas – no caso dos adultos, vendo-os através dos olhos de crianças – funcionou! Pelo menos comigo.