ClAcio 29/08/2022
Jamais li algo tão brutal e existencialmente perturbador!
Como com certeza você já leu por aí, trata-se de um livro que é uma crítica ao consumismo, individualismo, materialismo e ao chamado "sonho americano". Mas isso é só a superfície.
Todas aquelas descrições detalhadas de objetos, referências às pessoas ? e principalmente às mulheres ? como se fossem coisas, atrocidades nas sequências de assassinatos, torturas e afins, narrações de assassinatos com a mesma naturalidade de narrações de jantares que o personagem faz é Bret Easton Ellis, pouco a pouco, desumanizando Patrick Bateman.
?Não havia uma emoção clara e identificável em mim, exceto a ganância e, possivelmente, o desgosto completo. Eu tinha todas as características de um ser humano se? carne, sangue, pele, cabelo ??, como se um ser humano fosse composto apenas disso, ?mas minha despersonalização era tão intensa, havia se aprofundado tanto, que a habilidade normal de sentir compaixão fora erradicada, vítima de um apagamento lento e cheio de propósito. Eu simplesmente estava imitando a realidade, uma semelhança tosca com um ser humano, com apenas um recanto mal iluminado da minha mente funcionando.?
Na mente de Bateman, tudo se resume ao que ele tem e não há diferença entre sofrimento, prazer, satisfação e horror.
Outro ponto interessante é que várias de suas narrativas parecem sonhos. Por vezes, o personagem divaga, e há dois específicos acontecimentos bem absurdos, e não sabemos se o que ele está narrando é real ou apenas fruto de uma imaginação perturbada.
E uma coisa que não há como deixar de citar é a atemporalidade do livro. Basta dizer que o ídolo do personagem absurdamente cruel é Donald Trump, o infame milionário que, nos anos 1980, praticamente definiu a figura do yuppie.
Infelizmente, há alguns erros de digitação, hein, Darkside?!
?... há uma ideia de Patrick Bateman, uma espécie de abstração, mas não há um eu real, apenas uma entidade, algo ilusório, e embora eu possa esconder meu olhar frio e você possa apertar a minha mão e sentir carne segurando a sua, e talvez até mesmo sentir que nossos estilos de vida provavelmente são comparáveis: simplesmente não estou lá. É difícil para mim fazer sentido em qualquer nível possível. Meu eu é fabricado, uma aberração. Sou um ser humano incontingente. Minha personalidade é esboçada e inacabada, minha falta de compaixão é profunda e persistente. Minha consciência, minha piedade, minhas esperanças desapareceram há muito tempo (provavelmente em Harvard), se é que já existiram.?
?O mal é algo que está no ser? Ou é algo que está nas ações? Minha dor é constante e aguda, e não espero um mundo melhor para ninguém. Na verdade, desejo que minha dor seja infligida aos outros. Não quero que ninguém escape.?