Danilo Barbosa Escritor 18/02/2013Quer conferir outras resenhas? Acesse o Literatura de Cabeça:
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Quando as pessoas falavam para mim de Sarah Mason, a primeira coisa que vinha à minha cabeça eram aquelas capas cute-cute, próprias de capas de chick-lit, com enredos que, em minha opinião, seriam extremamente tolinhos e sem fundamento. Calma aí, gente, não queiram me apedrejar!!! Até gosto da ditas "comédias românticas", mas a maioria dos livros deste gênero, que fazem sucesso, muitas vezes me dão sono. Minha pior experiência foi com Melancia, da Marian Keyes, que achei tão engraçado quanto ficar preso em casa no sábado à noite assistindo ao Zorra Total. Bom, mas indo aos fatos, mesmo com a capa "fofinha" de Um amor de detetive na minha cabeça, resolvi quebrar os meus pré-conceitos e comecei a ler Veleiros ao Mar (Bertrand Brasil, 755 páginas), e tomei uma pancada feia na cabeça. Não, não foi o livro enorme que caiu na minha cabeça... Foram os meus pré-conceitos (que coisa feia, menino) que caíram por terra com esta obra.
Por quê? Acho que a coisa que menos tem aqui é a "comediazinha romântica". Aqui temos romance, paixão, aventura, mentiras, traições, paisagens deslumbrantes, corridas cheias de adrenalina e o mar... Ah, o mar. A autora trata o mar com um respeito que só tinha visto nas obras brasileiras. Com carinho, reverência e muita; muita fascinação.
O foco principal do livro é o America's Cup, a mais famosa e prestigiada corrida de iatismo do mundo. O evento, que antecede os Jogos Olímpicos, atrai navegadores em busca do mundo todo, em busca de prestígio e renome. Neste ambiente, combatido e tomado exclusivamente por homens, acompanhamos a ficcional história de Inky, a primeira mulher a fazer parte de um time a participar deste campeonato.
A presença de Inky, na verdade é um dos muitos detalhes desta equipe por quem eu literalmente me apaixonei acompanhando suas participações na corrida à bordo do poderoso veleiro Excalibur... Vamos dizer que a equipe é literalmente a turma do Glee no iatismo: pessoas completamente diferentes entre si, iniciantes e desacreditadas na corrida, comandadas com paixão por Mack, um grande atleta que todo mundo julgava aposentado e Colin Montague, um verdadeiro gentleman, que decide comprar esta briga. Contra eles, nada mais nada menos Henry Luter, o ex-patrocinador do time da Grã-Bretanha, que por ver mais prestígio e oportunidades de vencer, abandona o time da sua pátria para patrocinar a Espanha, a vencedora do último torneio. Ele é controlador, mesquinho, muito rico e odiado a partir da primeira cena em que aparece.
Se vocês acham que eu já falei de muita gente, prepare-se: temos Fabian, que por uma vida desregrada causou um acidente fatal e se queimou no universo do iatismo; Rafe, o príncipe dos ventos, um rapaz com talento natural para ver a direção dos ventos que tinha tudo na vida para dar certo até se apaixonar por Ava, a gélida e manipuladora filha de Colin; Custard, a alma alegre da equipe, que aprisiona sua livre alma de mulherengo por um amor proibido e impossível; Molly, a mocinha que sonhava em trabalhar com moda, mas estava estagnada em sua vida de garçonete até conhecer Fabian; Hattie, a assessora de imprensa que encontra o amor em mares nunca antes navegados; Bee, a querida tia de Rafe, que se torna a verdadeira mãezona da equipe; e por aí vai...
Como não nos perdemos no meio de tanta gente? A danadinha da Sarah é mestra em tecer histórias... Acompanhamos um pouco da vida de cada um deles e o início do treinamento para o America's Cup, dezoito meses antes do campeonato em si. E quando as corridas que dão o mote a sinopse acontecem, eu pessoalmente, já estava tão envolvido com todos pedia para as páginas não corressem entre os meus dedos. O texto, sem firulas ou delongas, conduz quem o lê direto ao cerne de cada personagem e no centro da ação, sequestrando o leitor com um gancho de direita.
Pensei em pegar algum trecho para mostrar a vocês a familiaridade com a qual ela mergulha a gente, mas não consegui. Foram tantos episódios dignos de um filme delicioso que surgiram na minha mente que preferi me abster. O melhor é que a ágil trama ocorre sem tensão, tudo leve e descontraído, fazendo o leitor verdadeiramente se divertir com a obra proposta.
O que mais me emocionou foi ver como pessoas tão diferentes entre si podem construir juntos a sua verdadeira força. Acompanhamos o grande azarão se transformar em algo mais forte do que imaginavam. Através do esporte, sentirem a responsabilidade de representar uma nação. Pela primeira vez, eu vi que uma taça não simboliza apenas uma vitória, mas sim junção, dor, muito trabalho e verdadeiro amor por aquilo que faz.
Bom, vou parar de blá-blá-blá por enquanto, senão ou eu solto algum spoiler ou vocês cansam de ler esta resenha. Então, só recomendo uma coisa, não perca a oportunidade de lançar também suas velas ao mar e conquistar este livro, assim como ele me conquistou.