Felipe 26/09/2022Clássico sendo clássicoÉ um ótimo livro para somar aos conhecimentos do mundo antigo clássico (Grécia e Roma), principalmente sobre a religião primitiva e como surgiram instituições como a família, propriedade privada, autoridade do pater, cidade, etc. A tese defendida é que basicamente --tudo-- terá, de uma forma ou de outra, influência da religião. Uma ressalva é que quando falo "religião" não se trata da mitologia que estamos acostumados, mas uma que adorava o fogo-lar (lareira) e os ritos para os ancestrais mortos. É impressionante como o autor consegue traçar um raciocínio passo a passo se baseando totalmente em textos antigos. Além disso, caminhando para o final, o autor apresenta as diversas revoluções, várias como consequência do enfraquecimento da religião primitiva.
O livro é fruto da tradição positivista na historiografia, se opondo fortemente à romântica do século XVIII e início do XIX. Dessa maneira, Fustel defende a não idealização das instituições antigas, tendo visto que surgiram em um contexto diferente para um povo totalmente diferente. Algo que poderá estranhar alguns é a preposição que Fustel usa como o "progresso do espírito humano", defendendo que as populações antigas possuíam crenças menos "desenvolvidas" por crerem em vários deuses em vez de apenas um onipotente (como ele), sendo isso diretamente proporcional à complexidade social. Novamente, é importante localizá-lo na história. Sabendo que Comte propôs os três níveis de sociedade (teológica, metafísica e positiva) e que Darwin e Wallace já tinham formulado a teoria da evolução (que por mais que não tenha esse viés progressista, sem dúvidas poderia [e foi] ser interpretada como tal).
Outra crítica que pode ser levantada é a explicação, como dito anteriormente, de praticamente tudo apenas pela religião. Assim como Marx pretende explicar a sociedade com base apenas na economia e na luta de classes. À parte essas observações, o livro é ótimo, se você gosta de Roma e Grécia é quase um sacrilégio não lê-lo.