Naaty Reis * 31/10/2009 É muito complicado comentar sobre obras de grandes autores – mesmo que não sejam grandes obras - pois nunca é fácil criticar os mestres. No entanto, 'A Audácia dessa mulher' de Ana Maria Machado não deixa muitos espaços para críticas.
Durante meu Ensino Fundamental uma professora de português indicou para a turma a leitura obrigatória do livro de Ana Maria Machado. Na época, nem consegui terminar de ler e, somente hoje, anos depois, retomei a leitura e pude apreciar o lia, o que obviamente pressupõe certa maturidade.
É um livro ágil, com vocabulário bem tranquilo - mas não é livro para crianças. A obra aborda os conflitos dos relacionamentos modernos, a inversão dos papéis do homem e da mulher. Bia é uma jornalista que viaja pelo mundo, é independente e extremamente racional. Ela se envolve com Virgílio, um cozinheiro bem sucedido, um homem passional e carinhoso. Essa relação estreita a oposição entre razão e emoção, numa verdadeira guerra emocial, uma 'queda de braço' entre cérebro e coração.
A narração da história é, algumas vezes, interrompida pela autora que se dirige diretamente ao leitor, fala sobre o processo da escrita e comenta abertamente sobre os personagens do próprio livro (algo inétido pra mim até então). Ana Maria Machado atinge seu objetivo e consegue uma aproximação incrível com quem está lendo:
“ Esta história que estou contando é pura imaginação. Esses personagens que criei nunca existiram fora da minha mente. E se até agora fingi que sabia o que se passava pelas cabeças deles, e conhecia seus pensamentos mais íntimos, é só porque estou escrevendo (da mesma forma que assumi parte do vocabulário e da 'voz' da época) numa convenção universalmente aceita na época em que se passa minha história - a de que o romancista se situa ao lado de Deus. Pode não saber tudo, mas tenta fingir que sabe. “
“ Mas digo isso também porque não quero mentir para quem me lê, não além do inevitável ato de fingimento que é qualquer ficção. É honesto lembrarmos que essas vidas são inventadas, essas situações são criadas, mas nosso encontro nestas páginas, seu e meu, é real. “
Trechos de um diário que pertenceu a uma menina misteriosa também aparecem no meio da narrativa o que, além de estimular a curiosidade de Bia, também faz o leitor criar uma grande expectativa (posso garantir que a autora não decepciona no final!)
A autora discursa também sobre muitas obras literárias e faz seus comentários sobre autores exepcionais como Machado de Assis, José de Alencar, Sthendal, Henry James, Virginia Woolf, entre outros (realmente fiquei impressionada com o conhecimento de leitora que Ana Maria Machado demonstrou ter). Também me identifiquei com a ambientação da história: o Rio de Janeiro no finalzinho do século XX, mas é que igualzinho ao ambiente de hoje. Os personagens são verossímeis e o cotidiano simples deles, o caminhar na Lagoa Rodrigo de Freitas e os meninos de rua, por exemplo, são muito reais. Durante a história a autora também descreve o Rio do século passado com detalhes históricos e nostalgicos, uma delícia! Totalmente recomendado!