Cris609 05/07/2022
Quando pensamos em abrir a cabeça para o mundo, queremos enxergar, antes de mais nada, o que há por trás do agir dos outros. A partir daí trazemos a reflexão para nós. Estamos nos portando com base em nossas convicções mais profundas ou apenas repetindo um modelo comportamental imposto?
Ler livros como esse nos faz analisar o mundo e, principalmente, a nossa posição nele. Esclarecer, processar e mudar: talvez seja o caminho da transformação do nosso planeta. E é na função de esclarecimento que chega para nós a teoria do Dejours.
O autor, ao tratar da vertente social e psicológica do trabalho, procura entender o que faz as pessoas aceitarem condições indignas e injustas como situações normais, necessárias e cotidianas. A busca pela causa da indiferença ao sofrimento psíquico do trabalhador passa por muitas estruturas argumentativas.
Entretanto, esse processo é desmistificado quando algumas perguntas se impõem: por que as pessoas consentem em infligir sofrimento aos outros? E, fazendo um paralelo necessário, estuda outro questionamento: o que levou pessoas que não eram más a aceitarem o nazismo? A resposta para essas duas perguntas e para a causa da indiferença quanto ao sofrimento alheio em relação ao trabalho seria a normopatia - banalidade do mal, que se caracteriza não pela maldade, mas pela falta do pensamento crítico.
A sociedade está tão ocupada em ter que se sustentar e sobreviver, que acaba perdendo a noção consciente de sua ação, alienado-se em vez de se emancipar. Hoje, por conta dessa falta de pensar, as relações de trabalho são relações sociais de desigualdade, de dominação e de injustiça. Para que o seu papel de emancipação, de solidariedade e de democracia seja erigido é necessário ter consciência dos processos aos quais estamos expostos, sobretudo àqueles ditados pela política neoliberal.
É um livro interessantíssimo. Pequeno, mas essencial. Depois dele, sua consciência nunca mais será a mesma.