Leo.vicente 13/10/2024
Uma das coisas que mais valorizo numa boa história é a complexidade de suas personagens. Entendo, é claro, a importância dos arquétipos, mas a superficialidade impede uma profunda conexão, retira a humanidade e empobrece a narrativa.
Em O Silêncio dos Inocentes, Harris constrói personagens magníficos, que sustentariam a trama por si sós. E tudo fica ainda mais impressionante quando, aliado a isso, ele ainda nos entrega um suspense de tirar o fôlego.
A jovem Clarice Starling está sendo treinada para se tornar uma agente do FBI. Sendo a melhor da turma, ela é chamada por Jack Crawford para entrevistar o famoso Hannibal Lecter, que até então tinha se recusado a dar informações e a conversar com quem quer que seja. Clarice desperta no doutor um interesse instantâneo e genuíno e, a partir da conversa, acaba envolvida na perseguição de Buffalo Bill, um assassino serial que acabara de sequestrar a filha de uma importante senadora.
Todos os personagens aqui, como disse anteriormente, são construídos de forma complexa. Starling é jovem, esforçada e talentosa, mas esses atributos decorrem de uma necessidade de autoafirmação que vem de sua relação com a mãe e da luta constante contra um meio que tenta diminuí-la e tratá-la com condescendência por ser mulher.
Sua personalidade desperta o interesse de Hannibal, que, em troca de informações pessoais de sua vida, a ajuda dando pistas sobre Buffalo Bill. Ambos protagonizam diálogos que são simplesmente geniais. A presença do doutor é tão forte que, assim como no filme, temos a impressão de que ele aparece muito mais do que de fato o faz.
Crawford é o clássico tutor. Um homem competente e disposto a quebrar as regras quando preciso. Apesar de parecer distante, ele vai nutrindo cada vez mais respeito e admiração por Clarice. Ao mesmo tempo em que lida com o perigoso serial, Crawford também enfrenta a doença terminal da esposa.
Bill é um excelente vilão. Instável e, até certo ponto, de passado misterioso, ele parece sempre estar um passo a frente dos investigadores.
Apesar de toda essa complexidade psicológica, a escrita de Harris é simples, direta e muito prazerosa. Foi uma das melhores leituras do meu ano.