Sora 14/07/2011
Sobre Julie & Julia...
Eu me empolguei com esta resenha, já vou logo avisando... Bom, simplesmente adorei o livro! E ele me tocou exatamente porque aborda duas coisas que me são muito queridas: o escrever (mais especificamente o 'blogar') e a paixão pela cozinha. Gostei tanto que ele está todo marcado e riscado. Rsrs... O livro é autobiográfico e fala basicamente da encruzilhada em que sem encontra Julie Powell, ao se dar conta de que está às vésperas de completar 30 anos, sem um emprego decente e ainda sofrendo a pressão da família e de seu médico para ter filhos. Em crise existencial e à beira de um ataque de nervos, Julie acha a solução ao dar de cara com uma relíquia na casa dos pais: uma edição de "Mastering the Art of French Cooking" (Dominando a Arte da Cozinha Francesa) de Julia Child, uma das primeiras mulheres a dominar os programas culinários da TV americana da década de 60, introduzindo sua audiência à culinária francesa.
Ao preparar a primeira receita do MtAoFC (apelido do livro dado por Julie) surge em sua mente, com a ajuda do marido, a idéia do projeto que a tiraria de sua crise: fazer as 524 receitas francesas do livro em um ano, e documentar a experiência em um blog. Isso sem nunca ter tido contato com nenhuma das duas coisas (cozinhar e blogar)antes.
E já adianto... quem bloga e quem cozinha, irá se identificar com a experiência de Julie, seja como for. Julie extrai de experiências como quebrar ovos... tirar tutano de osso de boi... 'assassinar' lagostas... ou até mesmo lidar com o encanamento entupido por suas experiências, lições simples, mas valiosas (filosóficas até), e com as quais eu me identifiquei aqui e ali.
Foram trechos como o que fala de sua alegria quando uma única leitora diz sentir imensamente sua falta, depois de alguns dias de ausência no blog. Eu me sinto assim tbm. Meu blog, O Filosofias (www.filosofiasdavida.blogspot.com), não tem um público grande (é mais amigos e família), e para falar a verdade não tô nem aí para este ínfimo índice de audiência. Poder, acima de tudo, pôr no papel virtual minhas idéias e ter manifestações realmente significativas e que fazem a diferença para mim, é o que há! É algo que faço com 'autoindulgência', termo usado por Julie para descrever a forma como Samuel Pepys escrevia. Escritor do sec. XVII, ele era quase que um blogueiro: escrevia sobre tudo o que lhe acontecia e também o fazia por prazer. Entretanto, por viver na era do papel, e não na era virtual, a grande maioria de seus escritos não chegou a ser lida. Diferente daquilo que escrevemos nos blogs de hoje em dia. Diários virtuais, onde expomos nossos pensamentos para quem quiser ler. E lê apenas quem quer.
Outros trechos que me marcaram foram aqueles em que Julie redescobre em algumas receitas o prazer puro e simples de comer e de cozinhar. Como por exemplo quando ela é apresentada por Julia ao tutano de boi. Ingrediente a princípio nada simpático, mas que no final das contas ela compara seu sabor ao de "uma transa muito boa" e depois a algo menos efêmero: ao "sabor de vida bem vivida".
Ou quando finalmente consegue reunir os amigos para comer uma refeição completa tirada do MtAoFC, e tudo corre bem, e tudo fica bom, e ela se pega observando seus convivas: "Estava me sentindo um pouco como uma das heroínas de James Austen, observando os amigos a quem tanto ama. (...) Nenhum de nós saberia com certeza a qual espécie pertencia, exatamente; mas enquanto fôssemos uma espécie que gosta de se reunir para comer e curtir uma noite maravilhosa, isso era o bastante. O que acaba provando, na minha opinião, que jantares entre amigos são como qualquer outra coisa: menos frágeis do que pensamos". E é exatamente assim que me sinto com relação aos convescotes que fazemos entre minha turminha de amigos: não importa quanto tempo passemos sem nos encontrar, a boa mesa é definitivamente um fator agregador, e tudo fica melhor ao redor dela.
Ou quando ela chega à conclusão de que o cozinhar para ela é o seu worm hole (buraco de minhoca) pessoal, com o qual ela pode ter acesso, quando bem entender, a um universo paralelo onde a "energia jamais é perdida, simplesmente convertida de uma forma em outra; onde [ela] pega a manteiga, os ovos, a carne e prepara pratos deliciosos; onde [ela] pega a raiva, o desespero, e a revolta e, com [sua] alquimia, transforma em esperança e em uma arrebatadora motivação".
Ou até mesmo quando ela confirma algo que já foi escrito, re-escrito, encenado e cantado: que podemos seduzir, sim, cozinhando. Que o ato puro e simples de cozinhar, principalmente algo mais complexo, encerra em si "indetectáveis reservatórios de estímulos, não só gastronômicos, mas também sexuais". E que o simples ato de "fazer isso para outra pessoa, oferecer a ela deleites gustativos obtidos com dificuldade a fim de conquistar outros tipos de prazeres", pode, sim, ser considerado uma preliminar.
Uau! Como me empolguei! E poderia continuar aqui, retirando trechinhos e trechinhos deste livro, como se fossem bocadidtos daquela comidinha das mais gostosas, e depositados na sua 'boca' uma a um. Mas daí, eu tiraria toda a graça, né. Resumindo, recomendo de com força!
Agora... antes que alguém pergunte, sugiro que você providencie o seu, porque o meu exemplar não vai ser 'perdido' por aí, não! Sorry!
Quanto ao filme, o roteiro aborda mais o lado da história de Julia Child, do que a de Julie Powell, mas é bem interessante ver tudo sob outra perspectiva. Também recomendo! ;-)