gleicepcouto 16/11/2012Quando a falta de adaptação do texto ofusca uma obra http://murmuriospessoais.com/?p=4897
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A Noite das Mulheres Cantoras (LeYa) é o 10º romance da escritora portuguesa Lídia Jorge. A autora, que já ganhou diversos prêmios literários, é reconhecida como um dos expoentes da literatura portuguesa e tem suas obras traduzidas para diversas línguas.
Nesse livro, Solange de Matos narra sua história profissional e pessoal. No final da década de 80, ela faz parte de um grupo musical com outras meninas, que tentam sair do anonimato. Durante as várias horas de ensaio, ela conta todo o processo de adaptação ao objetivo de fazer sucesso e também a relação entre as componentes do grupo e seus 'tutores'. Um deles, em especial... João de Lucena, um dançarino famoso, disposto a levar graça aos movimentos do grupo musical.
A partir desse relacionamento (e de todos os outros), Solange descobre o seu papel não só no grupo, mas também no mundo, como uma pessoa com suas próprias vontades.
Lídia Jorge é uma ótima contadora de história. As lembranças da protagonista que criou são deliciosas, vão e vem como uma leve brisa. Acontece de modo bem sutil, com um ritmo calmo e características marcantes do dia-a-dia. A narrativa em primeira pessoa não é entediante, nem superlativa. Resultado de uma protagonista bem construída e tão comum quanto eu e você.
A trama, em certo momento tem uma reviravolta que uou!, você não esperava. O que era leve, torna-se denso e, por vezes, sombrio. Lídia Jorge pontua esses momentos com muito bom tom.
O problema todo (e como sinto em dizer isso) reside na não adaptação do texto. Ler um livro em português de Portugal se tornou uma tarefa extremamente maçante. As diferenças são muitas e quando você começa a se acostumar com a as construções das frases e com as palavras, o livro chega ao fim.
Entendo a vontade de universalizar a língua portuguesa (acordo ortográfico que não funcionou - oi?), mas as diferenças existem. Não teria como ser de outra forma, pois querendo ou não, são culturas diferentes, com suas próprias particularidades que refletem na língua, que é viva.
Resumindo: se eu quisesse ler um livro com português de Portugal, gostaria de comprá-lo com essa consciência. Caso contrário, quero um livro com o português brasileiro, simples assim. Foi uma pena constatar que não consegui desfrutar plenamente de um bom livro por conta da barreira da língua. Não acredito que eu seja a única a sentir tal dificuldade.
A capa da obra também não agradou. Tem relação com a história, mas poderia ser uma capa de, no mínimo, 50 tipos de livros. Ou seja: a imagem passa uma mensagem muito geral.
A Noite das Mulheres Cantoras é um bom livro, mas que perdeu muitos pontos pela editora não saber trabalhá-lo.