A Romana

A Romana Alberto Moravia




Resenhas - A Romana


7 encontrados | exibindo 1 a 7


Peterson Boll 09/04/2021

Desencontrado
Por vezes redundante, e desnecessariamente digressivo, fica o desconforto da protagonista se apresentar como "pobre e ignorante", mas ao mesmo ter raciocínios filosóficos dignos de um Bertrand Russel (ok, exagero, mas entendem o que eu digo), e mesmo que tais elucubrações sejam o autor falando, não combinam com Adriana. Persegue-se uma história, uma finalidade literária que por fim, cai em um folhetinesco barato.
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neia 21/11/2017

A inocência perdida
Gostei muito dessa leitura, ela corre fácil, sem problemas com palavras difíceis já que é um clássico, embora chega uma hora que você não vê a hora de acabar logo, tem uma certa falta de acontecer algo mais empolgante, que acaba até acontecendo mas é tão rápido e tão já no finalzinho, mas é uma boa leitura, se nota a critica por parte do autor da sociedade, sobre a sexualidade, alienação, existencialismo, Acompanhamos Adriana e seus pensamentos nessas 400 paginas de sua saga!!! Se estiver parado ai na estante do seu avó, pega que é bom!!!!
Peterson Boll 09/04/2021minha estante
"embora chega uma hora que você não vê a hora de acabar logo", para mim é o que define todo o livro.




Valério 26/10/2015

Caminhos
"A romana" conta a história de uma jovem que, entre uma desilusão amorosa e a pressão da mãe para que corra atrás de dinheiro, acaba se prostituindo, ainda contra sua vontade no início.
Se por um lado não há glamourização da prostituição, também não se vê a dramatização que costumamos encontrar.
Uma história bem contada, e que fala sobretudo de sonhos por olhos ainda inocentes.
As decepções de Adriana transformam-se naturalmente em nossas decepções e amargamos a sensação de que tudo poderia ter sido diferente.
Questionamento inevitável: Porque muitas vezes acabamos nos apaixonando por alguém que não sente o mesmo? E, ao mesmo tempo, há pessoas que se desesperam em paixão por nós e não sentimos nada
Nossas emoções são animais arredios. Que se negam a seguir direções que determinamos e que impetuosamente desbravam muitas vezes as piores trilhas.
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Thais 11/02/2013

A romana
A descrição da perda da inocência de uma jovem de 18 anos do meio do século é impressionante. Moravia, narra em primeira pessoa, discorre com uma linguagem despojada, simples e direta com tal realismo que alcançamos uma identificação plena com a narradora. Compreendemos e sentimos com ela cada passo de seu despertar para a fria realidade do mundo. Frases como “pensar o mal [sobre as pessoas] é quase sempre pensar o certo” vai dando o tom da desilusão progressiva, quando nossos sonhos e esperanças cor de rosa vão se esmaecendo e tornando-se cinza, às vezes, sombrios. O livro conta a história de Adriana uma moça de aparência totalmente invejável, mas que seguindo os passos da mãe, torna-se modelo para pintores. Adriana tem uma vida miserável, aliada a um relacionamento conturbado com sua mãe, a entristece cada dia mais. Ela não tem muitos amigos, apenas Gisella e seu namorado, Gino.Um começo até comum para uma obra tão incomum. Gisella também é modelo, mas além disso usa as noites para “ganhar a vida”. Sempre influente na vida de Adriana, após vê-la sofrer uma grande decepção, a convida para experimentar um pouco do tipo de vida que ela leva. Adriana aceita o convite, se apaixona de novo e vive vários momentos inesperados. O final me comoveu muito, deixando-me com uma dor no peito. Este livro me surpreendeu, não esperava tanto dele.
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SergioSantos 17/02/2010

Uma reflexão sobre nós
A ROMANA, romance do italiano Alberto Moravia não é apenas um romance, com personagens, enredo, clímax e todos os elementos que o fazem um romance, é um desabafo, um relato. A escolha da narrativa pela primeira pessoa - Adriana, a romana - dá ao leitor essa sensação de relato, de confissão. Nós nos sentimos um amigo próximo dela, que era tão só, embora sua profissão implicasse as múltiplas relações humanas.

Talvez seja essa a intenção de Moravia, mostrar-nos não apenas a vida de Adriana, suas dificuldades financeiras e os desejos de properidade de sua mãe, que a levam (Adriana) a se prostituir; mas explorar o sentimento e o posicionamento da personagem, que consegue expor seus medos, suas angústias e seus prazeres. Se o romance fosse narrado em terceira pessoa, muito provavelmente, não teríamos o mesmo efeito. Moravia dá voz à prostituta na figura de Adriana, que é forçada a se prostituir não apenas porque passaria fome se não o fizesse, mas porque caminha - sob influência de sua amiga Gisella, dos anseios de sua mãe - para a forma de viver que lhe parece mais "fácil" e também glamourosa, pois só assim, ela conseguiria se relacionar com pessoas de posses.

Nesse momento, Moravia nos mostra a necessidade materialista do sujeito, que é capaz de levá-lo a escolher caminhos muitas vezes "errados". Adriana se alimenta do que os outros têm, como se assim ela o tivesse também. Gisella, personagem marcada pela falta de personalidade e pelo vazio sentimental, pois é movida pela busca incessante pelo luxo, serve de espelho para Adriana numa sociedade que busca a riqueza como sinal de felicidade. Interessante é que, com o passar do tempo, Adriana se depara com a frustração, pois a profissão não a deixa rica, a ponto de um dia deixar de ser prostituta e viver bem.

Para completar a angústia da personagem, ela acaba se envolvendo com um cliente, Giacamo, personagem que serve de constraste com o seu primeiro envolvimento, o motorista Gino, com quem ela iria se casar, não fosse a frustração de descobrir que ele já era casado, o que contribui para ela escolher a prostituição como meio de vida. A função de Gino e a visão do casamento tradicional, embora simples, é incitar no leitor a reflexão sobre as escolhas da vida. Adriana parece ser tocada por isso, ao se decepcionar com o amor verdadeiro, o que a faz mergulhar no prazer sexual e financeiro, abrindo mão de um amor que lhe completasse a vida e a tirasse de um vazio, que parece não possível ser preenchido.

Alberto Moravia nos presenteia nesse romance com uma verdadeira reflexão sobre o ser humano, seus desejos, seus medos, suas glórias, suas paixões, mas sem nos guiar ao caminho do bem ou do mal, pois sua obra é superior a essa visão dual.

Algo que não poderia ser esquecido é o requinte da narração de Moravia, que é sutil e de forte poeticidade, além do apuradíssimo vocabulário. O texto - não porque está narrado em primeira pessoa - conduz o leitor, levando-o a caminhos da alma humana, por meio da visão de uma prostitutura romana, que, assim como nós, é apenas um ser humano em busca da felicidade, da realizão dos próprios sonhos e dos sonhos dos outros, como os de sua mãe.

Poderia falar mais, porém, vou encerrar aqui dizendo que A ROMANA foi um dos melhores romances que já li.
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Alan Santiago 22/12/2009

Uma carta para Moravia
Adriana e seus belos olhos e sua bela boca e suas belas pernas percorrem uma trajetória em que as paredes de seu quarto, os lençóis de sua cama talvez sejam testemunhas de uma vida, mais do que baseada na luxúria de sua profissão, nos sonhos simples de sua mocidade. É assim o romance do grande Moravia, que criou a doce e apaixonante Adriana, um tipo aparentemente comum de uma Roma dos idos do fascismo, em que a polícia política concentrava esforços contra os que atentavam contra o regime e, nas delegacias, se entrava e saía com aquele cumprimento característico – como é bem representado quando Adriana procura o amado Mino que está preso, mas isso é conversa para daqui a alguns parágrafos. Por enquanto, ainda estamos no clima quase idílico do início do romance, onde Adriana é apenas uma jovem bela e sonha em casar-se e ter filhos. O oposto do que sua mãe pensa para seu futuro. Logo isso será um embate vigoroso entre as duas.

A mãe levava Adriana para posar para pintores e a vendia como quem vende animal, tirando-lhe a roupa e apresentando suas qualidades físicas. Isso formou uma faceta luxuriosa de sua personalidade que, ainda naquele tempo, sonhava em jantar sopa com filhos e marido ao redor da mesa, felizes, como viu certa vez numa casinha humilde da cidade num de seus passeios com a mãe. Mas nas palavras da matriarca, intransigentes enquanto ainda tinha o domínio sobre a filha, a beleza de Adriana poderia levá-la a conseguir muito dinheiro, um marido rico, bem nascido, de família de posses. E tudo pareceu ser destruído no momento em que a moça anunciou, ao chegar à noite, que estava noiva. E noiva de um chofer, Gino, motorista de uma madame riquíssima, moradora de uma vila, que é como são chamados certos palacetes na Itália.

Embalada pelas promessas de casamento, Adriana entrega-se a Gino como acreditava não poder entregar-se a mais ninguém. A convicção durou até o dia em que surge a figura do importantíssimo Stefano Astarita, um figurão da polícia fascista, que está morto de amores por ela. Contra sua vontade, Adriana é levada para um passeio e é chantageada por Astarita. Para não perder o noivo, ela vê-se obrigada a fazer sexo com o inescrupuloso sujeito; e para afastá-la do futuro marido, a quem Adriana cultivava intensa fidelidade, Astarita faz questão de descobrir a vida pregressa de Gino, que tem uma mulher e uma filha – e foi exatamente aí o início da derrocada de nossa personagem. Em 1947, as cenas escandalizaram a Igreja e o Governo, e o romance acabou proibido no país; entrou no Index Librorum Prohibitorum do Santo Ofício e católico nenhum poderia sequer folhear as páginas escritas por aquele italiano de ascendência judaico-cristã. La Romana, o título original do livro, traduzido rigorosamente como A Romana para o português por Marina Colassanti, só não foi queimado porque Moravia não nasceu no século XVI senão, talvez ele próprio tivesse sido, junto com seus livros.

Adriana é mais do que uma sensibilíssima análise de uma sociedade, calcada no dinheiro e no sexo. Na verdade, a personagem é o exemplar de uma espécime em franca extinção: a sua profundidade está escondida atrás daquela couraça simples, de seus modos pouco educados e de sua leitura deficiente; cozida em linhas e agulhas literárias de mestre, ela é um personagem do qual não se esquece. Ninguém esquece uma mulher como Isadora. Ninguém esquece também uma mulher como Adriana, viva, intensa, que passa a ter uma relação quase lacônica com a mãe, recebendo os homens em seu quarto de móveis novos, comprados para o casamento fracassado com Gino. Ainda assim, ela resiste, com o prazer que o dinheiro lhe proporciona e com o excesso de afeto que lhe transborda. Ela começou a dar-se por dinheiro devido ao seu destino sofrido, de seu caso amoroso infrutífero, mas não resistiu nele pelo mesmo motivo. É que nossa personagem sempre foi voluptuosa, a síntese de uma sociedade, massacrada pelas agruras da desigualdade e movida por aquele binômio, capital-sexo, cada vez mais forte.

O livro em primeira pessoa, contando as aventuras da Romana, instituiu uma visão de literatura, uma assinatura pessoal de Alberto Moravia, que nasceu Alberto Pincherle e morreu há exatos 19 anos. Imprimiu no texto uma maneira particular de criação de personagens. Os pensamentos de nossa moça pobre e suburbana não precisam se esquivar de bom vocabulário, de correção gramatical. Estão centrados, antes disso, num modo de se organizar muito compatível com a postura bastante singela, em alguns momentos leve, diante dos fatos que Adriana adota, e isso produz nas várias páginas dessa história a sensação de que estamos descobrindo a figura de um ser humano tão complexo e tão simples quanto qualquer um de nós, ao mesmo tempo, pode ser.

E é aqui que Moravia mostra seu apurado senso de observação. Não adianta o leitor, afagado com certas literatices recorrentes e convenientes, tentar procurá-las nesse volume. Não há adjetivos em vão, suas comparações e metáforas adquirem um valor poético muito forte por serem intensa e principalmente verdadeiras e espontâneas. Sobre os personagens, Adriana emite opiniões e considerações porque fala distanciada, pelo tempo que passou, pelo afeto que já deixou de existir, em alguns casos nunca existiu ou mesmo ainda existe. Ela narra como os personagens de sua vida acabaram envolvidos através das teias da mesma trama: o amor de Adriana por Gino e depois por Mino, o estudante revolucionário anti-fascista; a falta de sentimentos em relação a Astarita, que sempre pareceu perturbado perto dela; o inebriante Sonzogno e sua violência alucinante. São marcas de um tecido urdido com as mágicas da boa literatura que fizeram Adriana amar desesperadamente o estudante a ponto de usar-se de Astarita para tentar libertá-lo da prisão, uma ação arriscadíssima já que Giacomo, o nome verdadeiro de Mino, era de uma organização que pregava o fim do Regime.

A Roma suja e fria da capa das edições da Editora Abril, na série Grandes Sucessos, contrasta com a capacidade que Adriana tem de continuar a viver apesar de tudo – o final trágico pode ser até um elemento previsível, mas não estraga o romance. Este livro de Moravia, depois de mais 60 anos de sua publicação, continua sendo uma carta aberta: rendendo loas à vida, às delícias e aos sofrimentos de ser quem se é, enfim, à incrível, insuperável e eterna esperança que é viver.
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