Paulo Silas 20/10/2023"A Pena e a Lei" é uma das grandes peças de Suassuna que segue o estilo da crítica bem humorada contra aquilo que se apresenta como oficial em detrimento daquilo que é o efetivamente real - diz-se aqui do Brasil como ele é. Produzida pelo autor no final dos anos 50 (em momento posterior à obra "O Auto da Compadecida"), a peça é fruto da junção e aprimoramento de alguns textos seus a fim de funcionar como uma grande e coesa obra, o que é feito mediante a costura de três enredos que, unidos, aqui se dividem em três atos de algo que passa a ser e funcionar como uma mesma história.
O primeiro ato da peça - que originalmente se chamava "A Inconveniência de ter Coragem" - conta com as personagens de Pedro, Benedito, Marieta, Cabo Rosinha e Vincentão em uma trama que envolve um grande plano sendo posto à prova mediante enganação e confusão, a qual se dá no melhor estilo do autor. No segundo ato - cujo título original era "O Caso do Novilho Furtado" -, uma nova confusão é vivenciada pelas personagens Mateus, Joaquim, Vincentão, Cabo Rosinha, Marieta, João, Mateus, Benedito e Padre Antônio, tendo como pano de fundo o sumiço de um novilho que é apontado como tendo sido furtado, repercutindo em uma acusação que precisa ser resolvida pelo delegado. Por fim, o terceiro ato - "Auto da Virtude da Esperança" sendo o nome original - reúne as várias personagens no pós-vida a fim de que suas ações sejam julgadas, o que é feito no grande estilo próprio de Suassuna.
Vale registrar que todos os atos da peça são inicialmente apresentados por Cheiroso e Cheirosa, que funcionam como espécie de guia para a plateia/leitor e contribuem para o seguimento da obra de uma parte para outra, tratando-se de um elemento bastante útil e necessário ao considerar o desdobramento que se tem entre um ato e outro e o significado que embasa essa transição. A edição da editora Nova Fronteira conta com uma nota explicativa de Suassuna sobre como se deu a criação das peças isoladas e sua posterior junção em "A Pena e a Lei", tendo ainda um texto inicial de Sábato Magaldi que muito bem explora a obra e evidencia a qualidade da peça ao pontuar que "desde a concepção cênica inicial, tudo é extremamente engenhoso em A Pena e a Lei".