Kamilla 07/07/2023Pobre Joan...A protagonista do livro é Joan, uma mulher casada e de meia idade, que por um imprevisto é forçada a passar alguns dias em um deserto e com isso acaba se entregando a um estado introspectivo onde vem a conhecer mais de si mesma.
Joan acaba juntando as peças do quebra-cabeças da superficialidade que permeia a sua vida e a relação com os seus familiares.
Eu entendo que de certa forma a personagem ao longo dos anos 'escolheu' ignorar diversos aspectos da realidade que a cercavam em nome de preservar uma estabilidade na vida familiar, mas eu consigo eximir a personagem de parte da sua culpa quando consideramos a cultura da época.
Na época em que a história se passa, a mulher burguesa ou 'de boa família' era educada dentro de uma bolha, o seu valor de troca era a pureza e a educação que era justamente focada em preservar a estabilidade da família.
É fácil julgar a personagem como acomodada e fútil, mas a base de toda a criação de mulheres da sua época era justamente formar uma pessoa assim. É fácil ficar indignada por ela não ter apoiado a empreitada financeira do jovem esposo, mas ao mesmo tempo, em uma sociedade onde mulheres não tinham carreiras e nem fonte de renda, eu dificilmente me imaginaria ficando empolgada no lugar dela com a ideia do único responsável pelo sustento da família embarcar em uma aventura.
A relação com as filhas é mais complexa, pois as filhas já são o fruto de uma relação radicalmente diferente, os valores já estavam começando a mudar e as jovens já estavam enxergando possibilidades de ser mais independentes e donas de si.
Gostei mais de Avril do que de Barbara, que a meu ver não passava de uma pessoa bastante impulsiva e mimada. O filho Tony foi quem mostrou ter mais firmeza e conseguiu levar a vida que gostaria.
Eu esperava que a coragem que ela encontrou na viagem a acompanhasse até o final do livro, mas o final também foi bastante condizente com tudo que Joan conhecia da vida até ali. Não fiquei tão triste com Rodney, os homens da geração dele sabiam exatamente o que queriam quando procuravam as "Joans' para casar, depois não adianta ficar se remoendo pelos resultados de uma sociedade que eles mesmos construíram.