spoiler visualizarLumi Kora 03/08/2020
Borders, hiperatividade emocional
Publicado em 2012, Corações Descontrolados, escrito pela psicóloga Ana Beatriz Barbosa Silva, é citado em alguns vídeos sobre o Transtorno de Borderline no seu canal no Youtube, que abrangem maior parte do que é descrito no livro. A autora traz, através de descrições e relatos de pacientes anonimatos, o que caracteriza uma personalidade diagnosticada com o transtorno border, citando as principais características encontradas em crianças e mães. Também comenta sobre como são as relações interpessoais para essas pessoas e traça um diferencial entre ser, estar ou parecer borderline (frequência e intensidade de pensamentos, sentimentos e comportamentos). Ademais, expõe no que consiste o tratamento, cita celebridades que apresentaram características de personalidade border (apesar de não diagnosticadas), e rascunha uma origem para o desenvolvimento do transtorno. Conclui o livro frisando a importância do autoconhecimento e da responsabilidade afetiva. Belo livro de introdução à percepção dessa personalidade, autora mandou bem d+.
Algumas citações sobre características da personalidade
pg. 32
“Os borders de fato apresentam uma ativação emocional muito elevada, vivem no limite da hemorragia emocional e, frequentemente, sangram em forma de acessos de raiva ou fúria.”
pg. 40
“O que caracteriza, de fato, o transtorno de personalidade borderline é a presença de um conjunto bem-delineado de sintomas e o padrão de frequência, intensidade e temporalidade com que eles estão presentes no cotidiano desses indivíduos.”
pg. 50
"O vazio afetivo dos jovens borders é tão grande que eles vivem em um estado permanente de carência, mesmo que sejam profundamente amados e cuidados por seus familiares. Muitas vezes, essa carência inesgotável os coloca em tal nível de angústia, que suas atitudes autodestrutivas são praticadas como um remédio amargo e doloroso, mas com efeito de alívio imediato. É como algumas medicações aplicadas na forma de injeção: “doem uns poucos segundos, aliviam os sintomas em minutos e têm efeito por horas”.
pg. 52
"O córtex pré-frontal desses indivíduos apresenta uma disfuncionalidade que prejudica bastante a filtragem redutora dos impulsos que essa região recebe diretamente do sistema límbico. "
pg. 53
“O sistema límbico funciona como a grande central cerebral das emoções. Seria o coração de nossas mentes; é nessa região que sentimos desde as emoções positivas, como amor, ternura e tolerância, até as negativas, como ódio, mágoa e rancor. As pessoas borders apresentam uma hiperatividade nessa central emocional e, por conta disso, estão sempre gerando um número exacerbado de emoções com intensidades também elevadas. Essas emoções acabam produzindo impulsos que são conduzidos diretamente ao córtex pré-frontal, para serem moduladas de forma quantitativa e qualitativa. E é exatamente nesse processo que os borders começam a “capotar”, pois o sistema de freio, composto pelos seus córtex pré-frontais, são hipofuncionantes; ou seja, eles freiam menos os impulsos emocionais do que deveriam. O resultado é uma impulsividade exacerbada, tal qual um carro em alta velocidade, que a qualquer hora pode provocar um grave acidente e com consequências desastrosas tanto para o motorista quanto para as diversas pessoas ao redor.”
pg. 118
“A Psiquiatria Internacional reconhece que, atualmente, o diagnóstico desse transtorno pode levar até dez anos para ser feito de forma definitiva.”
Algumas citações sobre o Tratamento
pg. 120
“É preciso ressaltar que especialmente os jovens e as crianças muitas vezes não têm consciência ou uma boa percepção desse sofrimento, mas nem por isso se torna menos importante de se tratar. Por este motivo, gosto de dividir o tratamento em quatro etapas fundamentais: informação e conhecimento, apoio técnico, etapa medicamentosa e psicoterapêutica.”
pg. 122
“O objetivo maior é que o paciente se sinta bem, ou melhor, com controle de si mesmo, independentemente de com quem ou onde esteja e do que aconteça. Esta é uma tarefa dificílima não apenas para os borderlines, mas para todos que buscam uma vida equilibrada e feliz. Afinal, é uma busca filosófica de nosso bem-estar interno ou paz interior.”
pg. 123
“O nosso cérebro é dinâmico e altamente reativo aos acontecimentos, pensamentos e sentimentos. Quando há uma dificuldade intrínseca de se conseguir esta sintonia, como ocorre com os borderlines, é preciso criar um ambiente interno perfeito para que o cérebro consiga funcionar adequadamente. Fazer uma boa hidratação diária, bebendo no mínimo dois litros de água; ativar a circulação sanguínea com exercícios físicos rotineiros; ter uma alimentação balanceada, de preferência rica em ômega-3 e com doses regulares de proteína animal, frutas e verduras. Deve-se, ainda, evitar jejuns prolongados, pois ativa o sistema cerebral do “stress”, que, por sua vez, acaba ativando a amígdala — estrutura responsável pelas nossas emoções.”
“Não só a alimentação em si é importante como também a exposição saudável à luz solar para a produção de vitamina D e de melatonina em nosso corpo. A vitamina D, além de fortificar os ossos (absorção de cálcio e fosfato), é fundamental para a parte cognitiva cerebral, e a melatonina é um hormônio produzido pela nossa glândula pineal que regula o nosso ciclo circadiano (sono-vigília/dia-noite).”
pg. 125
“Esta fina lapidação do funcionamento dos circuitos cerebrais que ocorre com a ajuda dos medicamentos, da boa alimentação, da boa hidratação, dos exercícios físicos, do estímulo mental, da psicoterapia e da própria capacidade de readaptação cerebral é a grande arte da melhora tão esperada.”