spoiler visualizarPaulinha 11/12/2014
Como é notável, demorei muito a ler este livro. Comecei a lê-lo quando estava num momento muito triste, deprimido de minha vida. Depois, ao começar a mudar minha situação, eu não queria mais lê-lo, pois me remetia àqueles tempos. Mas a escrita de Pe. Fábio é envolvente, inebriante. Quando você vê, já está lendo mais e mais. O modo de escrever de Chalita não me seduziu, em que pese o conteúdo seja adorável. Comecei a ler como um livro de autoajuda e ele me levou a várias reflexões interessantes. Algumas, por me fazer sentido à época da leitura, transcrevi abaixo.
Sobre a alegria e o sofrimento (pág. 102): "(...) é muito mais fácil suportar o sofrimento alheio do que a alegria. (...) ao encontrar o outro mergulhado em sua dor, é natural que brote dentro de nós a compaixão. Esse sentimento ocorre até mesmo quando estamos diante de nossos inimigos. (...) O sucesso do outro precisa ser aplacado, pois ele representa perigo." - Pe. Fábio
A Caverna de Platão (pág. 114): Um certo grupo de pessoas viviam acorrentadas dentro de uma caverna, de costa para a entrada. Viviam, portanto, no escuro e não conheciam, sequer, a luz. Um dia, um deles consegue romper os grilhões da prisão e sair para o lado de fora. De início, a luz incomoda, mas já acostumado se encanta com as maravilhas que existem no mundo. Volta à caverna disposto a dividir com seus pares o que conheceu. Durante sua narrativa, vários sentimentos tomam conta dos prisioneiros da caverna e a precariedade das emoções os levam a matar o companheiro. Adaptei a narrativa de Gabriel Chalita.
Sobre a tristeza (pág. 131): "(...) O poeta conhece bem o poder criativo da tristeza. Sabe que é nela que as grandes esperanças são gestadas. O canto triste dos israelitas não era sinônimo de derrota. Era entoado para que a saudade pudesse reacender nos corações acorrentados o sonho de liberdade. Quando bem vivida e compreendida, a tristeza é serva da esperança. (...) Um estado de tristeza pode ser lugar propício para o início de novos tempos. A alegria faz ficar. A tristeza faz partir. (...)"
Sobre o Amor (pág. 145): "Como dizia São João, que história é essa de amar a Deus, a quem não vemos, e não amar ao próximo, com quem convivemos?" Gabriel Chalita.
Sobre a Morte, por Machado de Assis (pág. 147): "Papel, amigo papel, não recolhas tudo o que escrever esta pena vadia. Querendo servir-me, acabarás desservindo-me, porque se acontecer que eu me vá desta vida, sem tempo de te reduzir a cinzas, os que me lerem depois da missa de sétimo dia, ou antes, ou ainda antes do enterro, podem cuidar que te confio cuidados de amor."
Sobre o amor e o perdão (pág. 156): "(...) o amor só é concreto depois de termos necessitado do perdão. Antes disso há qualquer outra coisa, menos amor. Eu só sei que amo verdadeiramente depois de ter esbarrado nas imperfeições do outro, depois de ter conhecido sua pior faceta e mesmo assim continuar reconhecendo-a como parte a que não posso renunciar."
Sobre o conhecimento (pág. 157): "Alguns autores que estudei não eram honestos com seus questionamentos. Transformaram a dúvida em instrumento de ataque. Seu objetivo primeiro não era construir, mas destruir."
Sobre a fragilidade (pág. 159): "Quanto maior a armadura, mas frágil é o ser que a habita". Particularmente, eu substituiria 'armadura' por 'amargura'.
Sobre a inveja (pág. 169): "E inveja é uma tristeza diante da felicidade de alguém."
Sobre a relação a dois (pág. 171): "Juntos. Não pode um crescer e o outro assistir. Um crescer e o outro aplaudir. Sim, o aplauso faz parte, desde que se revezem no palco os artistas." E citando Drummond, lembra que "é de mãos dadas que o cenário fica menos rude." (pág. 172)
Sobre o medo (pág. 172): "Sem medo nos coisificamos."
Sobre desejos (pág. 175): traz Fernando Pessoa "Tenho pensamentos que, se pudesse revelá-los e fazê-los viver, acrescentariam nova luminosidade às estrelas, nova beleza ao mundo e maior amor ao coração dos homens."
Sobre o amor (pág. 184), nos termos de Adélia Prado: "amar é sofrimento de decantação."
Sobre a humanidade (pág. 187): "Também morro um pouco no menino que morre. Também sirvo taças em mesas vazias, em lugares que esperam por presenças. Também arrumo um quarto para um filho que já morreu (...)"
Sobre a traição (pág. 197): "O outro só rouba o que somos, porque não somos vigilantes. Pegam-nos desprevenidos porque não arrumamos tempo nem coragem para nos prevenir."
Sobre ensinamentos (pág. 201): "E não há ninguém que não tenha nada a dizer. Talvez nem diga; mas que tem, tem".
Sobre o tempo (págs. 212 e 213): Primeiramente, amei ver que uma das minhas músicas preferidas está neste mesmo rol de Padre Fábio, "Resposta ao tempo", de Aldir Blanc. De preferência, na voz de Nana Caymi. Em seguida, ele conclui sobre amar no tempo: "Não sei se ainda me restará outra manhã, outra oportunidade para amar. Por isso, amo no tempo que tenho."
Sobre a morte (pág. 219): diz Chalita, "A morte nos convida a ir sozinhos. (...) E vamos do jeito que viemos."
Sobre o amar (222): ainda em Chalita, "Digo coisas bonitas sobre o amor porque li ou aprendi, ou percebi, e por isso sofro quando escondo em mim o amor sem ter a coragem de vencer o medo que me impede de amar."
Um pouco de política (Chalita, pág. 224): "A corrupção se justifica pelos usos e costumes, e as bruxas saem ávidas para caluniar os corretos. Os sujos querem dizer que os limpos alguma sujeira têm."
Finalização, por Pe. Fábio: "O milagre requer a participação humana (pág. 233)" e "Ao falar sobre os medos que nos afligem, de alguma forma pude reconstruir minha coragem."