Krishna.Nunes 14/06/2024Enviesado, racista e ridiculamente pseudocientíficoPor que os europeus colonizaram o Peru, e não o contrário? Se, na época das grandes navegações, o império Inca era avançado e desenvolvido, por que eles foram dizimados pelos espanhóis em vez de subjugá-los?
Para responder a perguntas desse tipo, o autor desenvolve uma tese de que a Europa era geograficamente privilegiada. Jared Diamond sugere que a posição da Eurásia no mundo facilitou a disseminação de inovações culturais que deram substanciais vantagens políticas, sociais e militares sobre os povos de outras regiões e continentes. Sua hipótese assume que as inovações podem se espalhar mais facilmente ao longo de habitats similares, e que ambientes tendem a ser mais semelhantes na mesma latitude. A conclusão seria que a Europa foi naturalmente privilegiada por um ambiente que proporcionou uma rápida transmissão cultural que colocou seus povos em vantagem em relação a outros. Com essa ideia o livro ganhou o Pulitzer, virou documentário e vendeu milhões de cópias ao redor do mundo.
O problema é que, para defender suas ideias, o autor faz afirmações categóricas, utiliza argumentos pseudocientíficos, tira conclusões baseadas em suposições não comprovadas e utiliza hipóteses não falseáveis (que ninguém pode testar para comprovar se são verdadeiras ou falsas). Ele nunca apresentou testes quantitativos e deixou de lado o fato que a Europa não é mais geograficamente homogênea que outras regiões do mundo. Ele ignorou dados ecológicos, culturais e linguísticos ao nível global já existentes na época da publicação.
Na tentativa de justificar o privilégio europeu, a obra reduz a história humana ao determinismo ambiental e escolhe exemplos específicos para comprovar suas hipóteses enquanto ignora os exemplos que as refutam. Desenvolve um argumento sobre diferenças sociais baseado numa lógica determinista que relaciona pobreza, violência estatal e dominação social persistente ao resultado do ambiente geográfico. Ao mesmo tempo, considera os relatos europeus do primeiro contato com o novo mundo como verdades absolutas, ignorando completamente as nuances de como o colonialismo realmente funciona.
Basicamente, joga de volta o resultado do imperialismo no colo das suas vítimas.
Para rebater muitos conceitos incorretos contidos no livro, antropólogos dizem que, apesar de o autor ter algumas ideias interessantes, ele não consegue suportá-las com fatos. Eles afirmam que o autor ignora certos aspectos sociais que são tão ou mais importantes do que aqueles aspectos geográficos usados para justificar a evolução das sociedades.
O autor ainda argumenta, ao longo do próprio livro, que sua hipótese é anti-racista. Mas ela contém racismo implícito. O texto rejeita que uma raça seja geneticamente superior a outra e diz que a superioridade é apenas geográfica. Racistas explícitos obviamente discordam, mas isso agrada os racistas no armário. Em vez de se debaterem com o fato de que alguns povos foram dominados por outros através da força e violência, eles tentam justificar que aqueles povos dominados só tiveram azar, que foi determinismo geográfico. Os racistas "progressistas" simplesmente amaram esse livro.
Ao longo dos anos desde seu lançamento, os argumentos desse livro foram sendo rebatidos um por um. Hoje é possível encontrar artigos desbancando hipóteses da obra e concluindo que a geografia da Europa não deu a seus habitantes as vantagens alegadas pelo livro. Um exemplo é o recente artigo "Geography is no destiny: a quantitative test of Diamond's axis of orientation hypothesis", de Chiara, Gray e Botero, publicado em 2024 no Evolutionary Human Sciences, que rebate praticamente ponto por ponto tudo o que é sustentado em 'Armas, germes e aço'.