Maria Gabriela 25/01/2023
Nem mesmo a Damares leria esse livro
Digo cada palavra do título dessa resenha. "Abençoadas" não é uma obra literária, é um atentado ao bom senso e a crença religiosa de todos os seres humanos. Estou sendo bem boazinha ao simplesmente não escrever todos os palavrões e expressões de baixo calão que conheço para descrever a minha experiência com essa... coisa, mas posso resumir todos os meus sentimentos em uma única sentença: esse livro é um ótimo exemplo de que qualquer PORCARIA pode ser um best seller do The New York Times. Esse bendito jornal não sabe mesmo escolher algo que preste para exercer a função de "próxima inovação no mercado literário".
E que bela bosta é "Abençoadas"! Passou-me a impressão que Tonya Hurley acordou em uma bela manhã, tomou seu café da manhã e decidiu reescrever a Bíblia, tornando-a uma história atraente aos adolescentes que só pensam em se revoltar contra o sistema e transar até não querer mais. Ela pensou que seria uma ideia revolucionária colocar assuntos religiosos no mundo moderno e pecaminoso dos jovens, procurando a todo custo usar o livro como desculpa para apontar na cara de alguém e falar "se pecar, vai morrer!". É sério isso? O livro inteiro passou a impressão de ser uma fanfic escrita de qualquer jeito, com tanta encheção de linguiça para mascarar a falta de enredo. Que enredo, aliás? Esse vazio e com insinuações sexuais a cada 5 palavras, que faz de tudo para gritar "olhem para mim, eu sou super descolado e bizarro"?
O início já é ridículo. É um resumo completo de quase 300 páginas. As três protagonistas coincidentemente dando entrada no mesmo hospital, na mesma noite e no mesmo horário, enquanto um paciente da ala psiquiatra foge das acusações de ser um assassino e de ser louco, e olha que coincidência, passa pelo setor em que todas estão internadas. Oh, e os nomes delas coincidentemente são os mesmos nomes das santas que esse homem misterioso devota tanto. E, nossa, que engraçado, ele decidiu invadir o leito de cada uma para dar pulseiras especiais (ROUBADAS, aliás) e que simbolizam os talentos delas. Nossa, e coincidentemente elas agora tem a missão divina de espalhar a palavra divina para o mundo e combater o mau maior. Não, e fecha com uma chave de ouro: todas elas se apaixonam por ele!
Sim. Esse é o resumo COMPLETO de todo o livro! "Abençoadas" é isso: três jovens garotas que coincidentemente se "encontram" no mesmo hospital e na mesma noite em que um paciente decide fugir, para depois descobrirem que devem se tornar (a força, basicamente) as próximas santas. Isso aqui é uma cristianização tão forçada e descarada que até um padre jesuíta de 1500 e pouco sentiria NOJO de ler.
As protagonistas são irritantes. Em nenhum momento eu me conectei ou senti pena delas. Todos os personagens são ridículos, são vazios. São apenas pessoas banhadas no pecado, que se contradizem a cada momento quando decidem abrir a boca e expor o porquê de querem se benzer com o padre mais próximo. Lucy, Cecília, Agnes e Sebastian são vazios e não agregam nada em suas próprias histórias, e tudo o que eles fazem é ficarem indo e vindo na igreja abandonada, darem uma voltinha de 20 minutos na cidade e retornarem a igreja para rezar o Pai Nosso de cada dia. Que papel divino vocês tem, meus anjos? A autora trata a purificação deles como algo muito necessário, mas não é! Eles são superficiais demais para Deus se importar em punir eles no Juízo Final.
E vamos de reclamação, amigas. Lucy é simplesmente intragável. Ela é apresentada como uma mulher sedenta por fama e reconhecimento, capaz de fazer de tudo para conseguir um patrocínio no Instragram e um mimo do Boticário. Sem isso, ela é uma sacola plástica sem nada dentro. Os momentos em que ela fala que odeia a vida e que deseja mudar são inúteis, pois no minuto seguinte está fornecendo a fofoca quentinha para a equipe da Choquei. Ela é só uma patricinha mimada e irritante, que esconde um terrível segredo... Terrível segredo esse que é apenas o fato da mãe ter abandonado o marido e a filha, quando esta ainda era só uma criança. Nossa, meu anjo, mas que babado fortíssimo, hein! Que motivo horrendo para você ser insuportável. "Ah, mas o pai dela é extremamente rico e sempre mima ela", eu sei, querida, eu li o livro. Mas que segredinho fajuto para ser escondido a sete chaves, por favor.
Cecília é irritante. Nossa, mas ela inventou um novo significado para irritante. É a mistura do clichê de garota rebelde e destemida, que saiu de casa muito jovem para se tornar a próxima estrela do rock. Olha só como ela é descolada e maneira, que inveja dela. Ah, mas pelo o amor de Deus, né! Eu chegava a gritar de RAIVA quando ela abria a boca para falar. Graças as vozes da cabeça dela, ela é a líder do trio e sabe exatamente o que fazer. Spoiler, ela não sabe. Ela é completamente escrota em muitos momentos do livro, e quando decide agir como um ser humano normal, a autora faz questão de destacar ao extremo os horrores do machismo e como o sonho musical dela é revolucionário. Minha querida! O problema nunca será o machismo sendo criticado em livros (consumo isso no café da manhã praticamente), mas você apenas colocar meia dúzia de homens falarem o quanto querem transar com a mulher e ela apenas revirar os olhos e falar "conta outra"... isso não é crítica ao machismo nem aqui, nem em Nárnia! É só uma desculpa qualquer para você, como autora, colocar personagens desprezíveis e fazer a personagem feminina exercer indiretamente (e diretamente) um papel submisso. Isso não é uma crítica, é uma piada com as mulheres.
Agnes... ah, minha pequena e inocente Agnes, eu quero mais é que você suma! Se as outras duas protagonistas eram insuportáveis, essa aqui ganhou o prêmio. Ela é o clichê de garota sensível e incompreendida, que sofre nas mãos da mãe narcisista e controladora que não deixa a filha ser quem ela deseja ser. Olha só como ela é um monstro, por impedir a filha de seguir seu coração. Minha flor cheirosa, a Agnes decidiu atentar contra a própria vida por causa de um ficante que não queria casar com ela! Isso aqui é um absurdo, uma ofensa a minha saúde mental. A "justificativa" da tentativa dela não foi pelos abusos da mãe, não foi o desacato das amigas e dos colegas de classe, e não foi pelo fato dela ser uma garota sozinha e que não recebia a atenção que merecia desde a infância... foi porque o coração dela foi quebrado pelo ficante maconheiro, que não queria nada sério com ela! A autora focou tanto nisso que os atos narcisistas (e super problemáticos) da mãe passaram batido e foram ignorados!
Agora, a estrela: Sebastian. Se eu ficasse 15 minutos com ele numa sala trancada, eu iria sair de lá algemada. Sério, ele me tirou tanta, mas tanta a paciência que eu precisava fechar o livro e respirar fundo. A autora e os demais personagens o tratam como alguém especial, que saia pelas ruas da cidade procurando pecadores para levá-los a igreja e purificá-los. Ele era um santo, mas pobrezinho dele, quando demonstrou não mais estar nos controles de suas faculdades mentais, precisou ser internado. Ele está preso em um hospital e o médico é o vilão, buá-buá. PELO O AMOR DE DEUS! O próprio médico falou em muitos momentos que o Sebastian apresentava fortes sintomas e sinais de paranoia extrema e traços de esquizofrenia. A autora brincou com a crença das pessoas que conseguem ver e interagir com espíritos e figuras santas, brincou com problemas psiquiátricos sérios. Ela só os colocou na história e não mais os aprofundou. "Ah, mas o médico é o vilão", eu não quero nem saber. Se ele falava a verdade ou não, não é mais problema meu. O Sebastian por motivo nenhum colocou na cabeça que deveria ser o próximo méscias e saiu por aí falando que as pessoas precisavam serem santas e purificar o mundo.
Esse livro me irritou, e ainda me irrita. O enredo é completamente vazio e fútil, não agregando em nada nos próprios personagens. É apenas uma mistura muito mal feita de clichês de adolescentes. Sempre há a inserção de um elemento novo na narrativa que é descartado depois! Quer um exemplo? Eu dou de bom grado: houve a descoberta de um suposto corpo no elevador do hospital, e Sebastian é o principal suspeito e culpado. Mas isso só é mencionado umas 3 vezes. O Dr. Frey gosta de enfatizar que o Sebastian matou um enfermeiro e o leitor que lute para desvendar. É claro que é um fator promissor, mas é contradito quando ambos personagens falam que o suposto enfermeiro assassinado na verdade só estava desmaiado, e na sala do médico. NÃO NO ELEVADOR, NA SALA DO MÉDICO. Quer mais exemplos? Pois bem: a vida misteriosa e conturbada do amiguinho da Lucy, que não revela suas origens por nada, mas que vez ou outra solta uma insinuação do passado, e sua prisão no livro são pequenos fatores que não importam mais, pois a autora está preocupada agora em escrever uma cena de revolução na igreja. O mendigo que Cecília considerava como um amigo do peito e sua maior fã que queria seguir seus passos... que fim eles deram? Um foi esquecido e a outra virou mais uma moradora de rua, e só! Os supostos amigos de Agnes, sua mãe narcisista e seu ficante que gosta de usar entorpecentes... esqueça eles, no final do livro eles não passam de memórias.
Uma reescrita vazia e banal da Bíblia. Mais se assemelha a uma fanfic escrita por uma adolescente que pensou ser uma grande ideia misturar religião com sexo, drogas e violência do século XXI. Uma mera fanfic com personagens vazios, encheção de linguiça e que tenta a todo momento forçar o leitor gostar do que está escrito ali. O livro é esteticamente bonito, não vou mentir - foi o que mais me atraiu quando gastei quase 50 REAIS numa livraria -, mas sua aparência bonitinha serve apenas para mascarar um livro preenchido de erros e tentativas de apresentar algo concreto. Não tem moral nenhuma para passar e não exerce nenhuma critica social, pois todos os personagens estão muito preocupados em serem os próximos apoiadores da Damares.
Eu perdi anos de vida ao ler essa porcaria. Nunca vou entender como alguém gostou dessa coisa.