Jhonyf 31/01/2022
Três pontos de destaque no Discurso do Método
Primeiro diz respeito a sua máxima de questionar toda e qualquer verdade (exceto os dogmas de fé) e analisar se são verdades de fato ou não, e ao indagar isto, vendo que tudo pode não ser real, a única coisa real que descobre é seu pensamento, então se ele pensa, logo existe, então parte daí o princípio de seu argumento. Este ponto é importante, pois apesar dele não deixar claro, não é posto isto como uma condição necessária, e sim como uma condição suficiente. É um erro tomar essa frase como uma condição necessária para a existência de alguém ou de algo. Pois o objetivo do raciocínio era apenas provar que se alguém pensa, logo ele existe, mas a recíproca nunca foi posta por Descartes neste livro, então isso deve ser levado em conta para uma conclusão.
Segundo, sobre a diferença da alma animal e humana. Novamente Descartes não se aprofunda no tema, mas refuta satisfatoriamente a ideia de pessoas querem atribuir um certo nível de razão a algum animal. Apesar do argumento inicialmente raso, sobre os animais não falarem e gesticularem como os humanos. Pois, ainda que algum animal possa falar, como um papagaio, ou um outro imitar algum gesto, nenhum deles fazem isso para transmitir um pensamento como nós humanos. Ainda que algum animal tenha alguma habilidade sensitiva maior que a do homem, isso jamais fará dele um ser racional, pois a razão é própria da alma humana, uma alma racional, e no entanto, a alma animada dos animais não são dotadas dessa potencialidade, atribuir isso é ferir um princípio metafísico, é ir contra a verdade.
Por fim, seu argumento também não muito aprofundado, mas consistente sobre a existência de Deus. Na natureza temos que tudo tende ao equilíbrio, e este equilíbrio se dá porque toda a criação busca atingir a perfeição Daquele que a criou. Apesar de não atingirmos a perfeição, pois esta perfeição só poderá se dar com a comunhão com seu criador (se atigissemos tal perfeição, nós mesmos poderíamos nos atribuir as potencialidades da onipresença, oniciência e onipotência), nossas imperfeições são provas que somos parte de uma perfeição suprema, que tudo sabe, tudo pode e tudo vê. Aqui, temos um método de análise comum entre os escolásticos e também presente hoje na ciência, a análise que parte dos efeitos para se chegar a causa. E desse efeito de nossa imperfeição (como nosso pensamento, podemos pensar inúmeras verdades, mas também podemos pensar coisas falsas), partimos daí em direção a causa que não pode ser outra senão uma causa perfeita. Como nada pode vir do nada, e as imperfeições da natureza apontam para um princípio perfeito, vemos que não podemos ser mera obra do acaso, mas sim uma obra uma causa inicial que tudo pode, e a esta causa a chamamos de Deus, que é a causa primeira de todas as coisas.