João Ferro 20/01/2013
Kafka para sobrecarregados e Nietzsche para estressados
Decidi escrever a mesma resenha para dois livros: "Nietzsche para estressados" e "Kafka para sobrecarregados". A minha impressão sobre ambos compõe a mesma crítica, porque as obras foram escritas pelo mesmo autor, Allan Percy, e o estilo de redação e a estrutura dos textos são os mesmos. Trata-se, na verdade, de dois livros típicos de autoajuda, os quais trazem 99 máximas tanto de Nietzsche como de Kafka. Após cada frase, Percy lança uma análise, a fim de ajudar o leitor a superar seu estresse e sua sobrecarga hodiernos. Contudo, a abordagem é totalmente contraditória, pois, além de se fazer uma interpretação rasa das frases do filósofo alemão (Nietzsche) e do escritor de Praga (Kafka), oferece uma análise dos aforismos às vezes totalmente fora de contexto em relação com o que, talvez, os dois pensadores tenham querido dizer. Ambas as obras ensinam, superficialmente, a meditar, a calar e a falar: daí a contradição. A maior antítese talvez seja o fato de que tanto Nietzsche como Kafka terem possuído vidas extremamente conturbadas e problemáticas. Ao terminar de lê-los, restou uma impressão de que "faça o que eu falo e não o que eu faço". Entretanto, os trabalhos podem operar algum benefício a quem quer se encontrar de alguma forma ou está perdido na vida: Percy possui a melhor das intenções e admito que me ajudou em alguns aspectos. Recomendo para aqueles que estejam esperando o avião no caos aéreo ou que passem horas num consultório médico ou odontológico, esperando o atendimento. Em resumo: os livros representam, tão-só, uma pseudointelectualidade.