leonardo.capis 24/06/2021
Após passar a vista em tantas citações e frases de efeito atribuídas ao escritor Charles Bukowski pelas redes sociais, finalmente pude incursionar na escrita marginal do autor através do romance "Mulheres". Embora esse tenha sido meu primeiro contato com sua obra, eu já pintava na cabeça uma ideia, ainda um pouco abstrata, é verdade, do que eu ia encontrar, e após o término da leitura posso dizer que esse abstracionismo tinha já algo de concreto.
O livro gira em torno do personagem Henry Chinaski (todo baseado no próprio Bukowski), um escritor nos seus quase 60 anos que leva a vida entre álcool, ressacas, leituras de poesia e claro, mulheres. Quase um misantropo, Mr. Chinaski é conhecido em círculos restritos da literatura, porém possui um milagroso número de fãs do sexo feminino – todas muito mais novas do que ele. Como se pode imaginar pelo título da obra, acompanhamos as relações (breves) do personagem com várias mulheres: usuárias, raivosas, doces, interessantes, entediantes, lindas e outras nem tanto.
Quem se ocupar das primeiras páginas estará, sem o saber, se ocupando das páginas restantes, pois o livro é um ciclo interminável do aparecimento dessas personagens, o papo com elas, cervejas e alguns drinks, sexo (ou as broxadas de Henry) e o despacho no aeroporto daquelas que vem de outros estados, e até mesmo do país vizinho, o Canadá.
É repetitivo sem ser cansativo, mas confesso que mal conseguia lembrar o nome das personagens e suas características conforme as páginas iam ficando para trás. Apesar do título, o personagem que mais interessa, sem dúvida, é o próprio Chinaski. Seu carisma ácido, seu cinismo, seus porres, sua sordidez e suas percepções das pessoas e como se sente em relação a elas é o que torna possível chegar até a última página. A linguagem é facilmente digerida, não possui qualquer dificuldade, e falo aqui de forma nada pejorativa, simplesmente a estética do livro é essa. São 104 capítulos, todos curtos, distribuídos em 317 páginas.
Não sei se esse foi o título mais apropriado, se é que isso existe, para eu conhecer o autor. Eu vinha de algumas leituras sucessivas um tanto pesadas e quando comecei as primeiras páginas desta, a fluidez acabou me fisgando. De todos os defeitos que eu possa encontrar neste romance, fico feliz de que não encontrei aquele que talvez seja o pior de todos: a superficialidade. Bukowski parecia ter horror a isso, e não deixou que nenhuma página tivesse traços disso. Funcionou.
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