R...... 30/12/2016
A revista circulou em 2012 com o tema criptozoologia, ciência que que estuda animais fantasiosos e míticos, apresentando algumas curiosidades. O assunto atraiu os jovens em 2016 com o lançamento de um badalado filme "Animais fantásticos e onde habitam".
Uma coisa que não gostei nessa edição, como também não curti o filme, foram as ilustrações, que parecem opções menos atrativas retiradas da net, seja em fotos ou desenhos toscos.
O assunto em si desperta minha curiosidade, principalmente nos mitos brasileiros, e sobre eles que faço algum registro.
A criptozoologia é um ramo que muitos estudiosos valorizam, mas como encarar isso com seriedade quando não existe nada concreto, só especulação e lendas? Sem contar que há muitas divergências entre eles. Levo na brincadeira e também me arrisco em buscar explicações para algumas dessas coisas, só por curtição.
Falaram do Saci e para mim as origens estão ligadas ao período da escravidão, projetando-se nele a valorização da liberdade e o desejo de revide às atrocidades sofridas. A revista procura sugerir filme no tema e deixo em registro também "As fábulas negras" (um filme nacional com contos de terror lançado em 2014, vi outro dia na TV a cabo e é um trash maneiro, com uma história pavorosa com o saci).
Na lenda da Mula-sem-cabeça acredito numa mensagem de repressão sexual. Nos idos coloniais existiam padres que não viviam o celibato (uma forma educada de colocar a situação) e a história é como um factoide de condenação e alerta para as moças que se envolviam nessas tramas.
O Curupira vem de conhecimentos indígenas pré-Cabral e acredito no medo e explicação para o desconhecido nas florestas, principalmente quando haviam insucessos (como nas caçadas) e se perdiam.
A lenda do Boto é minha preferida e no meu estado há uma associação diferenciada em alguns locais que conheço. Esse negócio de nadar com eles (os botos rosa) é algo temido por terem fama de brabos, levando as pessoas para o fundo ou devorando-as. É isso! Só que são chamados de botos vermelhos ou malhados. O boto "bonzinho" é o menor, o tucuxi. Conheço um cidadão que salvou certa vez um moleque de ser arrastado para o fundo, ao espantar o boto, mas o moleque ficou com a perna ferida. Conheço outro cidadão que foi "salvo" por tucuxis. Ele estava em uma pequena embarcação que afundou no meio do rio e teve que nadar para se salvar. Acontece que boiaram botos vermelho próximos e se assustou com os bichões, além de já estar estressado com a situação e temor dos jacarés-açu da região. De repente apareceram vários tucuxis do lado dele e foram nadando junto até que chegasse na margem (alagada) e subiu em uma árvore esperando ser resgato no outro dia. Para ele os botos foram protegendo-o enquanto nadava. É verdadeira a história e outras reforçam o medo, como o relato de uma enfermeira que certa vez me contou sobre um boto encontrado morto na margem de um rio, com o braço de uma criancinha para fora da boca. A mulher contou com muito horror. É assim, o povo respeita (pelo menos a maioria), gostam deles (tem quem mate), mas temem o contato íntimo com eles.
Faltou a lenda da Matinta-pereira e do Mapinguari (que alguns criptozoológos associam a um conhecimento ancestral relacionados aos megatérios - as preguiças-gigantes).
O Boitatá, segundo moradores do interior que conversei, tem origem na decomposição de animais nas matas, mas não sabem explicar direito (nem eu, mas não duvido dessa possibilidade). Essas conclusões estão relacionadas à outras leituras que fiz também.
Vemos uma exploração maior de mitos estrangeiros na revista e sobre estes não vou registrar nada além das bobagens que disse sobre os nacionais apresentados. Ah, vale a pena algum devaneio sobre o Cujo, que tem a particularidade de ter sido introduzido por um livro de Stephen King com o mesmo nome (quero ler esse livro). Fiquei pensando se há na literatura brasileira alguma obra que teve esse "poder criptozoológico"... (não lembrei de nenhum, ou ainda não conheci, mas talvez tenha.. sei apenas do livro "O Saci", do Lobato, que fortaleceu essa lenda, mas não a introduziu).
Registro também que alguns seres apresentados não são tão lendários assim, nascendo de casos isolados, bombados pelo sensacionalismo. Foi o que aconteceu com referências à crocodilos, tubarões e serpentes gigantes, águas-marinhas assassinas e piranhas ensandecidas. Quer saber de um na Amazônia que é temido, com justiça, de forma lendária? O candiru.
O tal Devil Bird lembra a Rasga-mortalha (que não foi citada) e vale a pena registrar que há muita vida na Terra ainda por ser descoberta (mas não sou sensacionalista nas possibilidades como os criptozoologos).
Encerro com uma ironia que a revista não mostrou. Tem animais que hoje são lendários, mas só deixaram de existir por culpa do homem, como o lobo marsupial na Oceania.
É ou não é um mundo de diversão essa criptozoologia? Para mim, com certeza. Mas como disse: diversão.