Eudes 18/08/2010
Uma pessoa real
Hoje em dia, forçando bastante a mente, posso lembrar das vezes que vi, no programa Clube do Mickey (ou era Disneylândia), Walt Disney apresentando algum episódio em seu programa. Ali, em uma imitação de seu escritório - hoje eu sei que é uma imitação - estava o homem que era praticamente uma lenda. Vê-lo ali, em carne, osso e impulsos elétricos, era equivalente a ver o Papai Noel de verdade. Um ser mítico vivendo entre humanos. O criador de tantas coisas fantásticas que habitavam o mundo de todas as crianças, sendo eu uma delas.
Ali, naqueles poucos segundos, era possível saber que Disney não era apenas uma marca, mas que ele existiu. Na época eu ainda não sabia que ele já estava morto e, mesmo que soubesse, isso não faria diferença.
Quando programas como Clube do Mickey (ou Disneylândia) pararam de ser exibidos, esse distanciamento da pessoa de Disney se tornou mais forte e ele se tornou para mim o que ele é para o mundo em geral, uma marca. Uma assinatura impessoal em fitas de vídeos, revistas em quadrinhos, DVDs e todo tipo de bugiganga. Até mesmo seus desenhos animado - a marca de seu estúdio - mudaram para animações computadorizadas que, em sua maioria são ótimas, graças à Pixar, mas não são Disney. São Pixar.
Enfim, Walt Disney era apenas sinônimo de comércio e nada mais. Não havia mais uma pessoa, apenas uma coisa. Aliás, essa é uma frase que se encontra no livro acima, dita pelo próprio Disney: "Não sou mais Walt Disney, Walt Disney é uma coisa".
Se ele se sentia assim, sendo ele mesmo, imagina quem apenas conhecia-o por causa de uma empresa.
Acho que nunca li uma biografia em minha vida. Não que eu me lembre. Li o excelente Guerra dos Gibis e Os Homens do Amanhã, dois livros que traçam a "biografia" das histórias em quadrinhos, o primeiro no Brasil e o segundo nos EUA. Mas biografia mesmo, de uma pessoa, acho que nunca li. Porém, quando me deparei com a de Walt Disney, tive de adquirir e a li, acho que em duas semanas e alguns dias. Terminei-a ontem.
São 900 páginas, mas apenas 700 são de texto, sendo o restante de bibliografia. É um livro fantástico. A pessoa acompanha a vida de Disney desde antes de seu nascimento até o seu último dia sobre a terra, como se estivesse lá, diante dos acontecimentos.
Como o escritor não tem vínculos com a empresa Disney, pôde ser imparcial, mostrando todas as facetas do homem, tanto suas qualidades, quanto seus defeitos. E, tanto um, como o outro, eram muitos. Passamos a entender os motivos de toda sua vida criativa e também somos arrastados para sentimentos de admiração, pena e até raiva por um homem que se tornou maior do que ele mesmo.
Ler que a certa altura do início de sua carreira, enfrentando dificuldades financeiras, "Disney procurava comida no lixo" é no mínimo perturbador. Foi apenas uma vez e, claro, isso acontece com milhões de pessoas no mundo e é tão perturbador quanto, mas o ponto aqui é como uma figura que parece tão intocável e inatingível também teve seus momentos de homem comum que, no fundo, o livro deixa claro, era o que ele era, um homem simples.
O livro é imparcial e relata tanto seus erros como seus acertos, seja na vida de artista ou na vida privada. Disney, além de um gênio, também era pai, marido, irmão, filho e teve os mesmos problemas que todas essas "funções" trazem à vida do homem comum.
Obviamente não é um livro que vá agradar aos que não gostam da marca Disney, pois acho que já há uma predisposição a não gostar de nada do que for dito, contra ou a favor, sempre vendo o livro como tendencioso. O preço também é proibitivo, e tem praticamente que ser fã para adquirir. Mas, como eu já disse, considero como sendo imparcial. Mostra que por trás de um mundo de fantasia, Disney era tão real quanto eu e você.