Julia G 08/03/2013Proteja-me - Juliette FayResenha publicada originalmente no blog http://conjuntodaobra.blogspot.com.br
"- A porta - informou Dylan, olhos ainda cativos da tela.
Era o empreiteiro, querendo saber se Robby tinha olhado os papéis. Dylan piscou e desviou o olhar para sua mãe.
- Parece tudo certo - disse Janie, dando um relance a Dylan. Se ele não estivesse ali, tendo saído de seu transe induzido por Clifford, ela poderia ter continuado com sua tática 'Robby não está em casa'. Não era uma mentira. De fato, não poderia ser mais verdadeiro. Ele realmente não estava em casa. Isso ela sabia até o âmago de seu ser, a cada minuto do dia, de todos os jeitos possíveis que importavam. Robby, que muito estivera lá por tantos anos, não mais estava." (p. 20)
Alguns meses depois da morte de seu marido, Robby, a raiva e a tristeza de Janie ainda pulsavam com tamanha intensidade que ricocheteavam nas poucas pessoas que permaneceram perto dela. Robby fora mais do que precisara por muito tempo, e agora não estava mais ali. O único motivo que a fazia levantar dia após dia eram seus filhos pequenos. Abençoada e amaldiçoada, como sua mãe havia dito.
E, em um dia comum, Tug Malinowski, empreiteiro contratado por Robby antes deste morrer, trouxe para Janie o projeto de uma varanda. Ela não fazia idéia de como este último presente de seu marido contribuiria para que ela enxergasse um pouquinho de cor em sua vida e para perceber como as pessoas que pareciam nada ter a ver com ela poderiam se tornar tão importantes. E era com o auxílio delas que Janie precisava aprender apenas como seguir em frente.
Gostei demais de Proteja-me, de Juliette Fay, e isso deveria ser o suficiente, especialmente quando não consigo explicar o porquê. O livro narra o recomeço de Janie após a perda de Robby, seu humor agressivo com os que estão próximos, sua rotina junto aos seus filhos e àqueles que tentam ajudá-la. Janie está ferida, e ela não consegue deixar de demonstrar isso.
São tantas páginas contando uma história tão cotidiana que poderiam tê-la tornado chata e cansativa, mas isso não aconteceu. Alguns fatos poderiam não estar presentes, pois não fariam falta, mas estavam e deram todos seu toque à vida de Janie. O que quero dizer com isso, sendo mais específica, é que a história em si não possui nada de especial além das coisas mais "banais" do dia a dia de uma mulher, nenhum fato realmente marcante, um ponto alto, e que é essa simplicidade que faz a história tão bonita.
O que me encantou e fez com que criasse um carinho tão grande pela história foram, na verdade, os personagens criados por Jay. Ela conseguiu criar pessoas tão profundas e reais, todas com defeitos e qualidades, com problemas e histórias de vida, mulheres e homens comuns e, por isso, tão especiais. Janie poderia passar como uma chata reclamona, mas não foi; tia Jude, Shelly, padre Jake, Tug, Heidi e todos os outros, tão complexos e importantes, e que não foram de forma alguma negligenciados. Era possível visualizá-los, defini-los, e por pouco não tocá-los.
Dylan e Carly, filhos de Janie, sem dúvidas, foram os mais especiais. Fiquei fascinada em como a autora conseguiu dar forma a duas crianças tão incríveis; Dylan, com sua inteligência e sensibilidade sem tamanho para uma criança de 5 anos. Foi ele quem me presenteou com as melhores risadas; Carly, ainda mais. Não tinha lido livro algum ainda em que conseguisse visualizar uma bebê como aconteceu neste, vê-la crescer diante de meus "olhos", enxergar as ações graciosas de uma criança tão pequena.
Gostei da beleza singela de Proteja-me, de seu ritmo lento que me conseguiu arrancar lágrimas e sorrisos. Talvez não seja ideal criar grandes expectativas: a descoberta lenta e gradual de uma história simples ficará mais intensa se apenas se entregar à leitura e senti-la.