Antologia poética

Antologia poética Anna Akhmátova




Resenhas - Anna Akhmátova


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Arsenio Meira 11/08/2013

FLORES E FOGO


ANNA AKHMÁTOVA, genial poeta Russa, perdeu dois maridos, foi perseguida e coagida sob o julgo do genocida Stalin, mas resistiu e legou à pobre humanidade uma das maiores riquezas que um ser humano pode deixar como herança: a grandeza de sua arte.

Como senão bastasse ter sofrido com a execução sumária do seu marido, acusado de atividades divergentes da política empregada pelo referido maníaco, sofreu a dor que só as mães podem sentir, devido a insana perseguição política que se abateu sobre seu filho.

Recolhida ao silêncio, exerceu intensa atividade como tradutora de obras de Victor Hugo e Rabindranath Tagore. Sua poesia refletiu, durante essa fase, forte caráter patriótico.

Duramente criticada, foi impedida de publicar seus versos, que só reapareceram na Imprensa em 1950.

É considerada, com razão, a grande representante do movimento poético neoclássico que ficou conhecido com Acmeísmo.

Sua poesia notabiliza-se pela simplicidade e franqueza; ela não poupou a ninguém, e sob um lirismo impiedoso, distribuiu fartamente altas doses da mais bela expressão literária. O incêndio de sua inspiração não conhecia limites. Seus versos espancam (encantam) até o mais impiedoso dos leitores.

Anna Akhmátova soube expressar, de forma pungente, as tragédias vividas pela Rússia ao longo do século XX. Sob a canalhice stalinista, ela sofria - literalmente - intensa vigilância, e escrevia às escondidas o mosaico do seu sofrimento, anotando apressadamente seus versos em pedações esparsos de papeis.

Um dos poemas mais belos já escritos em qualquer língua, segue abaixo, um poema que leio e releio, releio sempre.

A MULHER DE LOT

A mulher de Lot, que o seguia, olhou
para trás e transformou-se numa estátua de sal.
Gênesis


E o homem justo seguiu o enviado de Deus,
alto e brilhante, pelas negras montanhas.
Mas a angústia falava bem alto à sua mulher:
"Ainda não é tarde demais; ainda dá tempo de olhar
as rubras torres da tua Sodoma natal,
a praça onde cantavas, o pátio onde fiavas,
as janelas vazias da casa elevada
onde destes filhos ao homem amado".
Ela olhou e - paralisada pela dor mortal -,
seus olhos nada mais puderam ver.
E converte-se o corpo em transparente sal
e os ágeis pés no chão enraizaram-se.
Quem há de chorar por essa mulher?
Não é insignificante demais para que a lamentem?
E, no entanto, meu coração nunca esquecerá
quem deu a própria vida por um único olhar.

Anna Akhmátova
(1889-1966)
(tradução de Lauro Machado Coelho)
Mariano Filho 04/05/2016minha estante
Chorei lendo A mulher de Lot. Wislawa Szymborska tem um poema com o mesmo título, também muito bonito. A poesia de Anna Akhmátova é muito íntima, dá a impressão de que realmente ela escrevia para sobreviver. Como se a poesia fosse o jorro necessário. Creio que, nessa despretensão em ser universal, ela fala com tanta sinceridade que acaba o sendo.




Carla Verçoza 15/05/2021

Ótima antologia. Trata de solidão, guerra, exílio, pátria.. Alguns recortes:

"CANÇÃO DO ÚLTIMO ENCONTRO
Eu me sentia fria e sem forças
mas eram ligeiros meus passos.
Cheguei a pôr na mão direita
a luva da mão esquerda.

Pareciam tantos os degraus;
mas eu sabia que eram apenas três.
Em meio aos plátanos, o outono
murmurava: “Vem morrer comigo!

Fui enganado pelo meu destino
frágil, volúvel, maligno”.
E respondi: “Oh, meu querido,
eu também... morro contigo”.

Esta é a canção do último encontro.
De novo olhei a casa sombria.
No quarto apenas, brilhavam velas
com um fogo amarelado e indiferente. 29/9/1911"
--
"SEPARAÇÃO

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Nem semanas nem meses – anos
levamos nos separando. Eis, finalmente,
o gelo da liberdade verdadeira
e as cinzentas guirlandas na fachada dos templos.

Não mais traições, não mais enganos,
e não me terás mais de ficar ouvindo até o amanhecer,
enquanto flui o riacho das provas da minha mais perfeita inocência. 25/9/1944"
---
"E meu coração já não bate
em minha voz, de alegria ou de tristeza.
Tudo acabou... E minha canção galopa
para dentro da noite vazia onde tu não estás mais. 1953"
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Marta Skoober 14/04/2020

Não sou uma leitora de poesias, e não me perguntem porque dentre os livros disponibilizados pela LePM para download gratuito durante a quarentena escolhi esse. Talvez por ser de uma mulher, talvez por ser russa, talvez por ser do início do século XX, talvez por tudo isso.
Não foi uma leitura fácil, foi arrastada e sinceramente não sei se gosto ou não do que li. Mas posso dizer com certeza os poemas são impactantes, são fortes, dolorosos.

Grifos:
"Tempos terríveis se aproximam. Logo a terra estará coberta de novos túmulos. Esperem fome, terremotos, peste e o eclipse dos corpos celestes."
.
"E não é só por mim que rezo"
.
"E nos livros, era sempre a última página a que eu preferia a todas as outras"
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Letuza 28/04/2020

Uma poesia feminina e forte
Anna Akhmátova nasceu em 1889 em Odessa, atual Ucrânia. Estudou em São Petesburgo em uma época que as mulheres não tinham muitas oportunidades de estudar. Começou a escrever poemas aos 11 anos, assinando-os com o nome da bisavó. Passou por inúmeras dificuldades, teve o marido morto, o filho preso, casou-se novamente, separou-se. Foi perseguida pelo regime stalinista por seus poemas serem considerados ?ameaças ao regime?. Foi banida e viveu em situação de quase miséria, porém Não nunca quis abandonar a Rússia e criticava que havia abandonado.
Seus poemas Réquiem mostram os sofrimentos, principalmente das mães que tiveram seus filhos presos pelo regime stalinista.
Poesia não é meu gênero literário preferido, mas esse livro é muito bom. A edição da L&PM é excelente e traz um pouco da vida da autora, além de explicações e contextualizações dos poemas. Gostei da leitura, achei fácil e muito bonita!
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Nico.Santa 23/06/2024

Encontrei o livro por acaso, naquela parte da livraria onde se acumulam os livros de bolso que não parecem atraentes, e comecei a ler por curiosidade. afinal, se tratava de uma mulher, poetisa e russa. a honestidade contida nas palavras de Anna e o jeito inventivo com que ela fazia das frases um cenário findou na minha hipnose. então, levei um pouco dela comigo. será que, na verdade, o livro me encontrou? talvez. a única certeza é que foi uma honra conhecê-la!
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Léia Viana 25/03/2012

Muito mais que poesia!
A poesia de Akhmátova é o romance da alma feminina, a expressão poética da luta de uma mulher escravizada pela sociedade burguesa, que busca sua personalidade humana. Não é alienada; seus versos refletem a alma de uma mulher numa fase de transição, época marcada por uma ruptura na psicologia humana e pela luta mortal entre duas culturas, duas ideologias: a burguesa e a proletária. Akhmátova não se alinha com a ideologia obsoleta; fica ao lado das idéias mais criativas. Aleksandra Kollontay.

Simplesmente lindo e muito bem apresentado, assim é essa Antologia Poética da poetisa russa Anna Akhmátova. Fiquei impressionada com a biografia curta apresentada na narrativa, mas que revela uma mulher sensível e com uma força enorme para lutar contra os horrores da Segunda Guerra Mundial e das autoridades stalinistas, com a única arma que possuía: a poesia.

Com a poesia não é assim. Os versos são a melhor armadura, o melhor disfarce. Você não tem que se entregar.

É com uma riqueza de sentimentos e de composições de versos que como leitores somos atingidos por seus poemas, que pouco é nos dito, mas, para quem lê sobre os horrores da guerra, estudou na escola ou conheceu alguém que teve parentes que viveram esse período negro da história da humanidade, percebe nas palavras de Anna Akhmátova, muito mais que poesia, querem aceitar irrevogavelmente este mundo com toda a sua beleza e sua feiúra, seus sons, formas e cores, e pedem da poesia não indefinição, mas clareza, não canção, mas discurso. A palavra tem de ser valorizada não pelo som que tem, mas por seu significado; não por sua música, mas pelo que afirma.

Essa poetisa caiu em minha vida por mero acaso, através de uma amiga que nunca havia lido um único verso de seus poemas, mas lembrou-se de mim ao ler uma estrofe dela em uma revista. Mergulhei profundamente na sua poesia que reflete tanto o seu estado de espírito, como os momentos de emoção que vivia junto à paisagem de Leningrado.

Mandelshtám expressou uma vez sobre Anna: Ela trouxe à poesia russa a complexidade e a riqueza da novela russa do século XIX. Anna, viveu sua época da maneira que pode e deixou registrado em seus poemas, para as gerações futuras, que mesmo diante de todo o horror da guerra, existe a possibilidade de uma visão poética da vida, existe a possibilidade de protestar entre versos e poesias.

Talvez haja em algum lugar vida tranqüila
e um mundo cálido, alegre e transparente...
Lá o vizinho conversa com a mocinha
por cima da cerca, ao entardecer,
e só as abelhas ouvem seus ternos sussurros.



Mas nós, aqui, vivemos vida solene e difícil,
respeitando os ritos de nossos amargos encontros,
em que o vento, com a sua insensatez,
interrompe a frase apenas começada.



Por preço algum ousaríamos mudar a suntuosa,
granítica cidade de glórias e desventuras,
os gelos refulgentes de amplos rios,
os sombrios, sinistros jardins
e a voz da Musa, apenas perceptível.

E, de uma maneira que sensibiliza, que fala da rotina do dia a dia, de uma Rússia em poder das autoridades stalinistas, mas não de forma nostálgica, triste, Anna, em suas poesias nos mostra uma realidade que não é possível pelos terrores da guerra, de uma rotina desejável, mas não vivida.

Leitura para ser refletida, para descobrir como os poemas de Anna pode nos levar a pensar não somente nos horrores da guerra, mas em nossos conceitos e postura diante da vida, das pessoas. Muito mais que recomendada!
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Ju 28/03/2020

Para o dia 28/03
Há três épocas para a lembrança. A primeira é como o dia que passou. A alma, sob sua cúpula, sente-se abençoada e o corpo em sua sombra se compraz.
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KKbarros82 14/04/2021

"Por um momento de paz eu trocaria o descanso eterno."
Em minha trilha pela poesia, cheguei sem querer, estava em promoção sua Antologia Poética, a Anna Akhmátova, poeta russa que viveu os horrores segunda guerra mundial.

Confesso que não encontrei o que esperava. Apesar dos horres vividos pela poeta, incluído sua visão do período estalinista, Anna, elabora sua poesia ao amor a uma Rússia apolitica. Não há revoluções ou luta em seus versos. Há apenas contemplação do seu cotidiano de um espectro saudosista de uma Rússia aristocrática.

Akhmátova é uma poeta do monótono, canta as paisagem, as florestas e os desamores. Seus versos são belos, simples e confessionais. Há também denúncia dos horres da segunda guerra imperialista, mas não choca ou impressiona.

Logo, minha experiência, apesar de ser uma leitura única, termina nesta Antologia Poética, Anna Akhmátova não conseguiu com seus poemas, encantar-me, mas, quem sabe, pode a outro leitor, enamorar-se dessa poeta que recita simplicidade e naturalidade.
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Mari 12/06/2020

Todo mundo deveria ler Anna Akhmátova!
Embora não seja muito conhecida por aqui, como seus conterrâneos Tolstói, Dostoiévski, Tchekhov e outros, Anna Akhmátova foi muito aclamada pelo povo russo.
Essa edição possui uma ótima introdução feita por Lauro Machado Coelho, que conta um pouco da vida da autora, o que é muito importante para o entendimento dos poemas. Antes mesmo de começar a ler seus poemas, fiquei apaixonada por Akhmátova, por sua história e sua força. Ela sofreu muito com casamentos fracassados, um marido autoritário (que a impedia de escrever e, por isso, infelizmente, não têm muitos poemas dessa época), as Guerras Mundiais, a perseguição e as censuras feitas pelo regime stalinista (provocando o assassinato de seu primeiro marido, as prisões de seu filho e de amigos e fazendo com que ela vivesse em miséria por muitos anos). Apesar de tudo isso, ela nunca desistiu e nunca perdeu sua força, morou a vida inteira na Rússia (ela repudiava a ideia do exílio, caminho que muitos de seus amigos escolheram) e publicou seus poemas baseados em tudo que fez o seu povo sofrer. Por isso, não me surpreende que os russos gostem tanto dela, ela era uma grande patriota, embora criticasse muito o governo stalinista, que tanto oprimiu seu povo, sua família e seus amigos. Para ela, a União Soviética não era a Rússia.
Mas, mesmo amando sua história, não quis criar expectativas quanto a seus poemas, o que foi uma ótima decisão, porque os amei. Não vou mentir e dizer que entendi plenamente todos os poemas, isso não aconteceu, alguns foram um verdadeiro mistério. Porém, a maioria me cativou totalmente, até chorei em alguns (principalmente, aqueles que foram inspirados pela prisão de seu filho, dá pra sentir todo o sofrimento dela).
Enfim, estou apaixonada por Anna Akhmátova e sua poesia, quero ler tudo dela.
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Ana Claudia 21/07/2020

Meu primeiro contato com a autora. Cheio de histórias por trás de cada poema.
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Carol 09/06/2020

Impressões da Carol
Livro: Antologia Poética {1981}
Autora: Anna Akhmátova {Ucrânia, 1889-1966}
Tradução: Lauro Machado Coelho
Editora: L&PM
208p.

Livro disponibilizado gratuitamente, durante a pandemia.

Anna Akhmátova, considerada a maior poetisa russa, alcançou, em vida, grande popularidade entre leitores e críticos. O que não se traduziu numa vida tranquila, muito pelo contrário.

Akhmátova foi uma das poucas artistas russas que não foi assassinada nem enviada ao exílio, durante a fase mais sanguinolenta da ditadura stanilista. No entanto, foi, recorrentemente, censurada, vivendo na quase penúria. Seu marido, Nikolai Púnin, foi preso e enviado para a Sibéria. Seu filho Lev Gumiliov, passou anos em campos de trabalho forçado.

Por tudo isso, acredito que Anna Akhmátova seja o tipo de artista cuja obra demanda um conhecimento prévio de sua biografia, para uma melhor compreensão. Ter pesquisado sobre ela, só engrandeceu minha experiência com sua poesia.

Esta edição conta com um bom prefácio do tradutor Lauro Machado Coelho e os poemas mais famosos, 'Réquiem' e 'Poema sem herói'.

"Profecia, Anno Domini MCMXXI

Não estás mais entre os vivos.?
Da neve não pode erguer-te.?
Vinte e oito baionetadas.?
Cinco buracos de bala.

Amarga camisa nova?
cosi para o meu amado.?
Esta terra russa gosta,?
gosta do gosto de sangue."
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Larissa.Goya 14/12/2013

Não sou particularmente fã de poesias, mas os versos de Anna Akhmátova são lindos, de uma sensibilidade quase transcendental, a natureza e as sensações do ambiente sempre ocupando um papel importante neles. Além disso, são interessantes os poemas que tratam de temas históricos tão importantes, como a 1ª Guerra Mundial naquele contexto da URSS e Europa Oriental.
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Marcos 20/07/2014

Imagens da impotência
Uma das principais tragédias de um regime totalitário é a impotência das pessoas comuns com a situação criada. Nada pode ser feito, apenas uma jornada de sofrimento enquanto se aguarda uma salvação que invariavelmente demora a vir. A poetisa Anna Akhmatova acompanhou a revolução russa desde o início e recusou-se a acompanhar seus colegas para o exílio. Sentiu que era seu dever ficar e servir de testemunha, registrando em seus poemas os sentimentos do povo russo e as imagens do mal. Para não ser morta, teve que escrever de forma que seu testemunho não fosse explícito, gerando poemas tocantes, mas profundos, que escondiam sua mensagem sob as aparências, driblando por anos a censura soviética. Os livros de ciências sociais jamais serão capazes de captar os sofrimento de um povo da mesma forma com que um verdadeiro poeta é capaz.
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fernando 11/04/2023

A melancolia da guerra, da perda, da solidão e do amor. fantásticos poemas que compõem uma antologia única.

recomendo..


E o multicolorido ruído da multidão
calou-se de repente.
Mas não era um som típico da cidade, e tampouco do campo,
esse longinquo estrondo que mais parecia ser o irmão gêmeo do trovão.
Se bem que, no trovão, há a umidade
das nuvens, altas e frescas,
e o desejo das campinas
de que venha um alegre aguaceiro.
Neste havia só um calor seco, escorchante; mas não quisemos acreditar
nesse rumor que ouvíamos - porque
ele crescia e aumentava e se expandia,
e por causa da indiferença
com que trazia a morte a meu filho.

setembro de 1941.
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