spoiler visualizarAllan Kenayt 02/07/2023
E as décadas passam por mim
[ Anna - Anna Akhmátova - Anna Russa, Anna Ucraniana, Anna - A Voz do Século.
Dizer qualquer coisa de ti é delicado, íntimo, desesperado.
Fazes atravessar em minha carne, em meus ossos, em minha alma, todas as vozes que precisamos ouvir.
Tu trazes à tona o coro. E na tua voz há a tua voz e as vozes que tu destes ouvidos.
Porque sabemos: a história pode iludir e pode se repetir e pode se perder.
Por isso, abro-me a ti. Porque te preciso. Porque te precisamos. ]
É impossível falar de Anna Akhmátova e da sua poesia, sem falar de tua vida
[ a beleza e a tragédia ],
sem falar da história da Rússia
[ a beleza e a tragédia ],
porque a Anna se expõem - se abre;
coloca toda uma sensação, todo um peso lírico, que adentra a alma e ressoa no íntimo do leitor que aceita essa intimidade.
Porque a escrita de Anna Akhmátova não tem o passo inalcançável-inalcançável,
mas o passo inalcançável-terrestre:
porque o que está dito é o que é visto.
E numa Rússia Totalitária Stalinista, ver demais pode ser o último adeus.
Anna Akhmátova fez/faz parte dos poetas que tiveram coragem e permaneceram fiéis a si próprios no olho da censura soviética.
E isso muito custou a ela e aos que a cercaram - filho, maridos, amigas, amigos, etc.
É preciso coragem... e alguma esperança de que as coisas mudem...
É difícil dizer a vida dela, pois em muito contribui a Apresentação do livro e as notas que visam esclarecer algumas referências.
E posso acabar por repetir o que ali se encontra.
Tu, Lauro Machado Coelho, meu querido, fizestes um EXCELENTE trabalho.
Anna Akhmátova é uma poeta que quero dizer muito.
No entanto as palavras me escapam; como se fosse preciso dizer apenas e não apenas:
leiam e sintam com a própria alma.
Minha sensação é minha. E tu que lê isto, mereces encontrar a tua
- assim entenderá o que quero e gostaria de dizer, mas não consigo.
Apesar de tanto.
Apesar de muito.
As poesias de Anna são íntimas - intimamente pessoais, intimamente tocantes, muitas vezes tristes, raramente alegres [ e como sorrir dentro de uma vida dura? ].
Anna vai tocar em questões conjugais - a traição; ou melhor, as traições que os maridos cometiam. [ E como sorrir? ].
Vai tocar nos amigos que partiram e que morreram desencantados naquela Rússia Soviética de Autoritarismo e Censura [ E como sorrir? ].
Vai tocar na prisão do filho, no fuzilamento do marido, na prisão de outro marido pelo Estado [ E como sorrir? ].
Vai tocar nas mulheres que esperavam para verem seus maridos, filhos, irmãos, etc. nas prisões de Leningrado: "passei dezessete meses fazendo fila diante das prisões de Leningrado."; "Esta mulher está doente, esta mulher está sozinha. O marido morto, o filho preso. Digam por mim uma oração."; "Há dezessete meses choro, chamando-te de volta para casa. Já me atirei aos pés de teu carrasco." - o carrasco é Stalin.
[ E como sorrir? ].
Anna deu Voz às Mães de toda Rússia naquele período de demasiado terror:
"Sempre e em toda parte hei de lembrar-me delas: delas não me esquecerei, nem numa nova miséria.".
Doce Anna Majestosa, Doce Anna Corajosa, que permaneceu na Rússia apesar do indizível terror:
"eu estava bem no meio de meu povo, lá onde o meu povo infelizmente estava.".
E como sorrir?
... E, no entanto, tu o fizeste... E, no entanto, tu ficaste... E, no entanto, tu lutaste...
E apesar de uma possível vitória, querida Anna, meu coração se inunda de uma aguda tristeza, e me desmancho em prantos.
Porque tu chegastes a sonhar com uma vida simples, que nunca teve...
... Dos teus manuscritos queimados, pelo medo da perseguição, nada saberemos...
... E do amor que poderia ter sido, com aquele homem, aquela alma irmã, "o Hóspede do Futuro", o encontro que não houve... Tão, Mais Tão, Difícil, Dizer...
Anna, Anna, Anna... Conhecer a Tua Obra é Conhecer Parte da Tua Vida.
É Conhecer uma Parte da História para que ela Não Se Repita.
Mas isso é algo que escapa de nossas mãos de poeta.
[ Acaso soubestes da Guerra? ...
Ah, perdão; quase me esqueço.
Sim, sim.
Entendo. Entendo.
Devo regressar à formalidade das resenhas e dizer se recomendo, ou não, a leitura de tua Antologia Poética, querida Anna.
Nesse caso: Sim! Recomendo!
Mais que isso, Insisto Insisto Insisto: Leiam! Pois é preciso. Pois é preciso que Conheçam! Pois é preciso que Ouçam! Pois é preciso que Lembrem! Pois é preciso que não se Esqueçam!
P.S.1: quebrando um pouco o clima, falo um pouco sobre o "Poema sem herói":
como eu disse, achei esse poema muito difícil de compreender.
Assisti a um vídeo, no YouTube, de alguém declamando; pra me ajudar.
E basicamente, fui ouvindo e acompanhando no livro.
Há trechos interessantes. Mas pra entender o "Poema" como um todo, vai muito além.
Pelo menos pra mim.
Mas ainda assim, vale a pena a leitura da Antologia Poética, de Anna Akhmátova.
[ E caso tenham curiosidade, o canal do YouTube com o "Poema sem herói", se chama "Le Conde". ]
P.S.2: o título da resenha/opinião é um trecho do "Poema sem herói".
P.S.3: a edição que li, da Antologia Poética, de Anna Akhmátova, foi a edição L± Coleção L&PM Clássicos Modernos, de 2018, traduzido pelo Lauro Machado Coelho.
P.S.4: Boa Leitura & Abraços
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