gabriel 06/04/2021
Curiosidades sobre a lendária banda de punk rock
O livro não é exatamente empolgante, e Johnny Ramone parecia ser um grande de um chato. Algumas passagens são arrastadas e sem graça, sem a capacidade de transmitir o brilho ou a empolgação de um disco da banda. Não se pode dizer que Johnny era um grande contador de histórias, e isso se mostra aqui. Ele destaca fatos triviais, do tipo "fiz ciuminho para minha ex-namorada", ou então "odiei a França porque não colocavam gelo no refrigerante". Ou seja...
Mas é bacana para saber mais sobre a banda, pelo menos do ponto de vista do Johnny. Ele reduz a praticamente nada o papel dos demais membros e exagera o seu papel. Então, é claro, não pode servir como uma fonte para uma pesquisa séria sobre eles, mas é um bom documento a partir do ponto de vista de um deles. Sendo assim, é um material indispensável a se conhecer, se você é fã da banda e gosta deste gênero de rock.
Johnny era um cara ranzinza, reaça ao extremo, fã do presidente Ronald Reagan e apoiador da guerra do Vietnã. A banda em si era muito mais careta do que se imagina, mas Johhny parecia ser o mais. Mal bebia e, após o show, parava num 7-Eleven e comprava biscoitos e achocolatado para comer no hotel. Estes eram os Ramones.
Os membros mal se falavam entre si, mas ao falar da música propriamente, nota-se um pouco de carinho por parte de Johnny. Mas o pior mesmo é sua relação com Joey (vocalista), ou melhor, a inexistência de uma relação, já que eles realmente não se falavam. Quando Joey morre, a decepção do Johnny não é com sua morte, e sim "com o fim dos Ramones". Um sujeito amargo, mas o livro ao menos transparece autenticidade.
Outros hobbies do guitarrista também aparecem, principalmente o beisebol e o cinema. Ele era fissurado nos dois assuntos e mantinha coleções a respeito. Lia sobre eles e um de seus sonhos era ter sido diretor de cinema. Isso certamente influenciou a banda, que tinha um apelo visual muito pronunciado.
A "espontaneidade" da banda era uma espontaneidade estudada, Johnny e os demais membros pensavam tudo na hora de entrar no palco. Entravam do nada, sem afinar instrumentos, não falavam nada e mantinham uma pose simétrica. Tudo isso dava um ar de energia e vigor. Parecia casual, só entre lá e faça, mas era algo pensado e discutido com antecedência. Como num filme ou numa peça de teatro, e Johnny era bem consciente disso.
Incrivelmente, a parte mais chata do livro é sobre os anos 1970, quando a banda estava no auge talvez não comercial, mas certamente musical. Johnny não é capaz de transmitir a energia daquele momento, e seus relatos soam burocráticos.
A edição é bonita, contém várias fotos coloridas dos Ramones (mais do Johnny e menos dos outros membros, no entanto), e encerra de uma maneira muito bacana, com as opiniões detalhadas dele sobre cada disco do grupo. Essa, talvez, seja a parte mais legal, pois lemos os bastidores de gravação, as avaliações dele sobre as músicas, etc. Só que, na edição que eu tenho, está um pouco mal diagramado, a letra é pequena e tomaram a opção horrorosa de colocar fonte vermelha sobre fundo preto, o que torna a leitura muito difícil. Mas é um detalhe menor, e só aparece mais para o final.
Enfim, a leitura em si não é a coisa mais empolgante do mundo, é um pouco mal escrito, mas não se trata de uma obra-prima da literatura e sim das memórias de um guitarrista de rock, então tá valendo. As posições políticas do guitarrista, que surpreendentemente era muito mais careta e conservador do que se imagina, podem incomodar alguns, principalmente se a tendência for mais contestatória e à esquerda. Nada disso, no entanto, diminui a apreciação pelos Ramones.
Um livro bom para entender a história da banda, mas um pouco tendencioso por se tratar do ponto de vista do Johnny, que puxa bastante a sardinha para o seu lado. Como a edição é bonita, com muitas fotos e em papel de boa qualidade, vale quatro estrelas, além de (é claro) ter valor por ser o testemunho de um de seus membros.