Resenhas - A Ideologia da Sociedade Industrial

Galo 18/08/2020

A técnica da unidimensionalidade
Tal livro junta críticas magistrais em relação ao establishment da tecnocracia no ocidente. Marcuse é bastante incisivo e caracteriza termos como a própria unidimensionalidade representando uma consequência técnica de administração social; o "não pensar fora da caixa". A subjetividade, a partir de então, adquire uma nova patente de reificação que não só a limita como também esvai o prazer estético desta, a partir de um mecanismo conceituado como dessublimação repressiva, oposta ao prazer mediado, ou seja, o imediato. Marcuse afirma que uma sociedade repressiva tende a estimular a sublimação da libido, canalizando-a a fins distintos do estímulo inicial (fins culturais). Logo, uma sociedade que promulga como a única fonte de prazer a sexual, negando por entrelinhas a fonte artística da cultura e do negativo - em oposição dialética ao positivo dos positivistas - descaracteriza o que é cultural. Essa sociedade cria uma imagem de produtividade e a difunde, com seus gigantes condomínios ostentando a cuminância da saga humana na Terra. Enquanto isso, trava-se guerras entre civilizações durante o aumento exponencial do número de desempregados em suas respectivas áreas. Limita-se a bidimensionalidade artística e, portanto, criativa, utópica e idealizada - a própria subjetividade só vale enquanto utensílio ao capital. Enquanto aumentam as condições de apaziguamento da existência humana, através de uma redução da labuta e diversificação de empregos, vê-se uma servidão à técnica e suas necessidades, pois elas ditam a quem e quando atacar - elas originam também a noção de prejuízo ao contratar duas pessoas ao invés de uma. A Grande Recusa, o ato de recusar a realidade que vem, supérflua e tecnocratizada, faz-se quase que como um portal em acesso à bidimensionalidade, criando alternativas distintas e negativando racionalmente o presente para, assim, encontrar possíveis mudanças.