Thaylan 21/07/2015
Entendendo as faculdades mentais do homem
Filósofo escocês do século 18, cético e empirista, David Hume é um importante pensador. O livro tem 151 páginas (editora, Escala Educacional), contudo, demasiadamente profundo. Traz uma construção textual de difícil leitura, uma linguagem rica de maneira complicada, sendo necessário reler várias vezes a mesma página com esforço reflexivo altíssimo.
Não obstante do seu pedantismo, o autor diz que a filosofia deve ser simples e acessível, e que a filosofia abstrusa (pomposa e abstrata) abre margem para a superstição e para o obscurantismo. Hume acredita que as faculdades mentais do homem o capacita a buscar e encontrar a verdade através da razão (racionalidade).
Então, se propõe a pesquisar e estudar como o ser humano pensa e entende as coisas ao seu redor, como seus sentimentos e sensações o faz enxergar o mundo a sua volta.
A sensação, seja ela qual for, do calor de 40° graus, ou do frio de um local onde cai a neve, é mais intensa e real do que a imagem de quando lembramos de tais situações. “O pensamento mais vivo é sempre inferior à mais remota sensação”, diz o autor. Hume, classifica as percepções humanas em dois tipos: 1- pensamentos ou ideias e 2- impressões (ouvir, ver, sentir, amar, odiar – percepções mais vivas). E distingue umas das outras.
Paradoxalmente ao que a maioria das pessoas acreditam, David Hume, afirma que o pensamento humano não é infinito. Diz o autor, (...)“embora nosso pensamento pareça possuir essa liberdade imensa, verificamos, por meio de um exame mais meticuloso, que ele está verdadeiramente preso a limites muito reduzidos e que todo poder criador da mente não ultrapassa a faculdade de combinar, de transpor, aumentar ou diminuir os materiais que nos foram fornecidos pelos sentidos e pela experiência”. Um exemplo: é o cavalo alado de Hércules, Pegasos; é a junção de um cavalo normal (conhecido de todos humanos) com asas (que conhecemos de outros animais, como a borboleta).
Todos os nossos pensamentos (ideias) provém das nossas experiências externas ou internas – impressões – que culminam em sentimentos e sensações. É impossível um cego (que tenha nascido com a patologia) imaginar o que é, ou como é, a cor azul, ou como é o céu; não tendo ele a capacidade física da visão. Todas nossas impressões são inatas (naturais), mas nossas ideias e pensamentos não. Pois as ideias são cópias de nossas impressões, e não as próprias impressões. Copia não é natural, é criada, formulada.
Existe uma associação obrigatória das ideias. Quando desenvolvemos um raciocínio, ele necessariamente tem um objetivo, ou objeto final. Sem associação (elo) não há como pensar de maneira inteligível. E, para Hume só existem três princípios de conexão entre ideias, que são: de semelhança (remete a coisas já conhecidas), de contiguidade (no tempo e espaço) e de causa e efeito (consequência).
(...)“todo efeito é um acontecimento diferente de sua causa” diz Hume. E continua em outra parte “não há nada tão semelhante entre si como os ovos, mas ninguém, em virtude desta aparente semelhança, aguarda o mesmo gosto em todos eles.”
Por isso, é impossível descobrir na causa o efeito exato sem fazer uso, para isso, de uma suposição (imaginação) arbitrária em certa medida.
“Qual o fundamento de todas as conclusões da experiência?” Indaga Hume. E responde, “depois de ter havido experiência das operações de causa e efeito, nossas conclusões, não estão fundadas no raciocínio ou em processo algum de entendimento”. Por que quando afirmamos “o sol nascerá amanhã”, pode parecer algo lógico, mas não é? Porque o contrário dessa afirmação: “o sol não nascerá amanha”, é logicamente possível e pensável, apesar de não ser provável. Assim como é impossível provar que ele nascerá amanhã, antes de seu aparecimento. Isto é uma questão de fato; fenômenos que ocorrem e não podem ser explicados logicamente, devido à finitude da capacidade intelectual e compreensão humana.
Só o que temos é uma coleção de experiências passadas que indicam que o aquecimento da água causa sua fervura, o que não é suficiente para determinar que sempre quando aquecida a água irá ferver.
O filósofo nos explica que “todos os raciocínios podem dividir-se em duas classes, a saber: o raciocínio demonstrativo (as relações de ideias) e o raciocínio moral (referente às 'questões de fato' e existenciais). Isso nos mostra que, nossas conclusões baseadas nas experiências que tivemos são ininteligíveis. São dedutivas, e não há um método de raciocínio pra se chegar a tal conclusão.
“Que neste caso não há 'argumentos demonstráveis' parece evidente, já que não implica contradição alguma, que o curso da natureza chegasse a mudar, e que um objeto, aparentemente semelhante a outros que experimentamos, possa ser acompanhado por efeitos contrário ou diferentes do conhecido”, acrescenta o autor.
Por essa falta de fundamentação, de provas, não conseguirmos ter a certeza de que o sol nascerá amanhã, mesmo sendo algo constante/recorrente todos os dias. Pode acontecer algo que impeça esse fenômeno de acontecer, um cometa destruir a Terra, o Sol explodir, etc.
E resume o argumento: “Dissemos que todos argumentos a respeito da existência se fundam na relação causa-efeito, que nosso conhecimento dessa relação se deriva totalmente da experiência, e que todas as nossas conclusões experimentais se dão a partir da suposição de que o futuro será como o passado.” Porém, como dito anteriormente, não sabemos (apesar de prevermos e supormos com grande chance de acerto) se o sol nascerá amanhã.
Um menino que queima o dedo na vela não cometerá o mesmo ato. Embora, a não repetição do ato não seja algo racional e pensado, seria mais um reflexo da experiência anterior. Um ato irracional. O mesmo ato de vacas que não tentam passar a cerca após levarem um choque. Apesar de irracional é um conhecimento (entendimento) da questão de fato. Que existe.
A inferência (dedução) não é intuitiva, tampouco demonstrativa. É baseada na experiência do passado acreditando na recorrência no futuro. Pois, se não recorresse, de 'nada' valeria a experiência. Seria inútil. É impossível demonstrar se o que ocorreu no passado ocorrerá no futuro. Aqui esbarramos na 'nossa' ignorância em volta da realidade natural das coisas.
A solução, propõe, David Hume: é a filosofia cética, ou acadêmica, com a suspensão de juízo (de tendências e inclinações) que vêm do temperamento natural de cada um. Como ela (filosofia cética) não dá corda – impede pensar através das paixões – não tem muitos adeptos. Eu, particularmente, tendo a achar impossível essa proposta de Hume em sermos totalmente imparciais, entendendo que somos humanos, e portanto, falíveis e passionais.
Uma resposta às questões de fato que não são demonstráveis e racionais, é o 'costume' ou 'hábito'. Tendo em vista, que, a repetição de um ato produz uma propensão a 'renovação' da mesma atitude.
É certo que todos os homens irão morrer um dia. Embora, seja impossível 'demonstrar' tal afirmação, ela procede de uma prova (fato). E por prova entendemos: os argumentos derivados da experiência que não deixam lugar à dúvida ou oposição.
As três formas de argumentação são; demonstrações, provas e probabilidades.
Demonstração é o ato revelar, deixar conhecer, o que se afirma. Pode ser por meio de raciocínio lógico ou dedutivo; ou por evidências.
As provas são formuladas através de experimentações (verificações) – processos de teste onde se prova (atesta) algo com exatidão.
A crença vem da probabilidade. Quando notamos um evento através da experiência que ocorreu durante um longo tempo, temos uma propensão a acreditar – crença – que este evento irá ocorrer novamente.
Remetendo à ideia de obrigatoriedade de conexão para formular um pensamento, escreve o autor: “todas as nossas ideias são cópias de impressões ou, em outras palavras, é-nos impossível pensar em algo que antes não tivéramos sentido, quer pelos nossos sentidos externos quer pelos internos.”
Decorre disso que: o conhecimento vem dos nossos sentimentos, e estes por sua vez, decorrem dos nossos sentidos (visão, audição, tato, paladar e olfato) para então causar-nos impressões (externas e internas; imaginação e criatividade) que formará nossas ideias e pensamentos; podendo a partir dessa capacidade de raciocínio entender as coisas, dentro de nossos limites intelectuais, é claro.
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OBS: Tento um Blog intitulado "Ceticismo, Conservadorismo e Capitalismo" aonde eu posto várias resenhas e muito mais: artigos informativos, textos filosóficos. Deixarei o link na descrição!
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