Na Nossa Estante 06/11/2013
Esta não é uma resenha científica, porque se fosse eu teria que falar sobre o teatro francês, o Realismo e me aprofundar muito na obra de Alexandre Dumas, então, é apenas um pequeno relato sobre “A dama das Camélias” para aqueles que só ouviram falar do livro, mas nunca tiveram a oportunidade de lê-lo.
Eu gosto tanto do Dumas Pai quanto do Dumas Filho, mas antes da faculdade eu lia muito mais sobre o Dumas Pai e seus romances cheios de aventuras! Porém, quando a gente entra em uma faculdade de Letras toda a graça de um romance ou de uma aventura fantástica se perde para a realidade da obra e você passa a vê-las com outros olhos; para alguns olhos mais maduros, eu prefiro achar que são olhos menos sensíveis.
“A dama das Camélias” é um clássico da literatura francesa e é ambientada na revolução de 1848, contando a história do romance de Marguerite Gautier, uma das mais cobiçadas cortesãs de Paris, e Armand Duval, um jovem estudante de Direito. Os dois protagonistas tentam a todo custo viverem uma história de amor, apesar do preconceito social e da oposição da família de Duval. Uma linda história de amor, certo? Errado. E não digo isso por conta do final que é longe de ser um conto de fadas, digo isso porque a obra mostra claramente que o dinheiro pode ser mais forte que qualquer sentimento.
Tudo na época parece girar em torno do dinheiro, vestidos, luxo e aparências, bem a cara do século 19. Bom, não só daquele século, a diferença de hoje está apenas na nossa tentativa de esconder esse fato! Porém, Dumas usa da ironia para deixar bem claro em muitas passagens o valor que o dinheiro tinha para cada personagem, inclusive para Marguerite.
Claro que o romance entre Marguerite e Armand começou sem muitos problemas, já que era bastante natural um rapaz possuir uma cortesã, mesmo sem ter muito dinheiro, como no caso de Armand. Porém, no momento em que ambos passam a viver juntos e assumem publicamente a relação, começa de fato a aparecer os problemas. O duque, amante rico da protagonista, não perdoa o fato de ter sido trocado publicamente, não aceita o romance dos dois e deixa de bancar as despesas de Marguerite. Esta, não querendo se separar de seu amor, passa a viver com ele, abandonando o luxo e a vida que tinha. Lindo, não? Sim, mas até a próxima página.
Marguerite e Armand pretendiam viver de maneira mais simples como um casal feliz, se não fosse pelo Sr. Duval, já que o pai de Armand se preocupa não só com o fato do filho gastar a herança que a mãe deixou para ele, como também prejudicar o bom casamento de sua filha, visto que a família do noivo não a veria bem, caso o irmão continuasse o romance publicamente com uma cortesã. Bom, Marguerite ama Armand, mas não a ponto de ser egoísta e deixá-lo gastar todo o dinheiro para sustentá-la e assim abandona o seu grande amor. É a velha retória da generosidade encobrindo o valor do dinheiro, já que no final de tudo Marguerite fica conhecida como uma cortesã honesta e detentora da falsa moral burguesa!
“A Dama das Camélias” tem um cunho biográfico e representa inclusive o Realismo no teatro. Lembrando que o Realismo é uma escola literária tão viva e lúcida, que eu não posso deixar de admirá-la. Porém, para meu gosto romântico, eu preferiria que Marguerite fosse uma personagem mais forte, que não usasse a desculpa do sacrifício para não enfrentar os problemas, como se usasse o amor como uma arma para ser vista como vítima da sociedade da época. Bom, o conformismo, a ironia e a hipocrisia gira em torno de muitas obras desse tempo, o que me faz admirar a estrutura e a ousadia dos autores, mas me faz desgostar profundamente de muitas personagens, tanto femininas quanto masculinas.
Obviamente, que por ser um clássico, vale muito a pena ser lido, já que Dumas constrói e desconstrói de modo perfeito os seus personagens em uma exemplar narrativa, com características do Realismo e com uma pitada também de romance.
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