MF (Blog Terminei de Ler) 14/07/2020
Crônicas e pensamentos escritos com saudade e nostalgia
Livro “Se eu pudesse viver minha vida novamente…” do escritor, educador, psicanalista e teólogo mineiro Rubem Alves. Trata-se de meu segundo contato com o autor. A primeira vez que o li foi especial para mim. Quando busco na memória as lembranças mais antigas sobre livros, o livro mais antigo que me lembro é “Estórias de bichos”, que recordo de meus pais lendo para mim quando era criança, em meados de 1991. Depois de adulto, comprei esse mesmo bom livro, reli (captando certos nuances políticos nos contos) e pretendo lê-lo para minha filha.
O presente livro é uma antologia de pequenas crônicas e pensamentos que trazem reflexões sobre a vida e a passagem da vida em si. Rubem Alves fala de saudade e de nostalgia, pondera sobre aquilo que viu e aprendeu com os anos. Sobre a saudade, ele diz:
“Saudade é sentimento de quem ama e perdeu o objeto do amor. Quem não amou e não perdeu o objeto do amor não sente saudade”.
A saudade invoca uma nostalgia, no final da vida. E, se a saudade é sempre vinculada a uma perda, seria a vida uma sequência de perdas? Se sim, isso seria necessariamente ruim? Queria ter tido a oportunidade de perguntar isso ao autor.
Em certo momento, o autor me fez lembrar de Paulo Leminski, com seu conceito de “inutensílio”. Rubem Alves escreve:
“A nossa vida começa justamente com o advento da inutilidade. Pois o momento da inutilidade marca o início da vida de gozo. Nada mais preciso fazer. Travei as batalhas que tinha de travar. Nada devo a ninguém. Estou livre agora para me entregar ao deleite”.
Apesar da nostalgia e saudade, Rubem Alves não é mórbido. Ele diz:
“Vamos! A vida é bela. Pare de namorar a morte! Beba a taça até o fim!”.
Repare na seguinte passagem:
“Quando se lembra do passado com emoção nunca sentirá tédio no presente”.
É como se o autor estivesse dizendo que, uma vida plenamente vivida nunca é tomada pelo monótono. Se você consegue enxergar a beleza nos diferentes nuances, objetos, momentos dela, até chegar a derradeira hora, o indivíduo terá algo para vivenciar, se emocionar. É uma forma bonita de se encarar a existência.
Esse livro é uma antologia organizada com o autor já próximo dos 80 anos. A edição que tenho em mãos é a terceira e foi publicada em 2014, ano da morte do autor.
Com exceção de algumas passagens religiosas que não me atingiram, foi uma rápida e boa leitura.