Clara T 20/04/2024De Contar HistóriasSe você está caminhando e tem um grupo formado ouvindo a narração de uma história sobre Ahmed, a oitava criança de um casal árabe que já tinha sete filhas, você gostaria de ouvir a história?
A proposta é muito promissora, ficamos sabendo do sofrimento do pai, com a pressão da família para um herdeiro e a total incapacidade para controlar se desta vez será um menino e o plano genial de que essa criança será Ahmed, independente se for menino ou menina.
Durante a infância, ninguém podia se aproximar da criança, apenas os pais. Eles cumpriram os rituais e a criança foi crescendo como um menino. Teve oportunidade de ir para a escola, e brincava com outros meninos, mas de resto, tinha pouco contato com outras pessoas.
Quando chegou a adolescência, algumas coisas passaram a ser questionadas.
O autor envolve o leitor com a dinâmica de contar histórias, altera narradores que presumem conhecimento de uma verdade sem ter conhecido o personagem. Parte são páginas de um diário, parte são cartas, parte são testemunhos e parte são as histórias que vieram sendo contadas pelas ruas.
Podem ser várias histórias de pessoas diferentes entrelaçadas e sobrepostas como sendo de uma pessoa só, mas também pode ter sido uma vida longa de diferentes experiências.
Ahmed em determinado momento, após a morte da esposa prefere se reconhecer como Zahra. Também pode ser que tenha fugido para o circo, como mulher barbada. Talvez tenha se isolado no terraço e esperou a vida expirar.
Pelas características culturais, a história de Ahmed pode ser realmente plural, tantas outras crianças, com outros nomes que tiveram esta condição escolhida por seus pais.
Esta narrativa desperta para uma realidade muitas vezes ignorada, pela construção da sociedade patriarcal da cultura árabe.