anapachecoeumsm 25/05/2022
A poesia porosa e plural de Paulo
Leminski era mais do que um escritor, era muitos dentro de si mesmo. Era judoca, amante de futebol, autodidata, professor, curitibano, carioca, paulista, escritor, marido, pai, amante da vida, observador, e conhecedor dos clássicos.
Antes de tudo estudante, poliglota paroquiano cósmico (segundo Haroldo de Campos), formalista e claro, nas palavras de Leyla Perrone, que configura a multi criatividade de Paulo, era samurai e malandro dentro de suas obras, além da união de visões; ora malandro-samurai, ora samurai-malandro.
Paulo usava das normas clássicas, conhecimentos helenísticos e padrões linguísticos e literários de forma criativa. A língua não era só um conjunto de fonemas pra poesia, mas sim uma brincadeira de dicção, uma arte de jogar bem com as palavras, a "quase" música letrada nas obras dele, que se tornou música cantada por Caetano Veloso, ícone do MPB que reverencia a poesia de Leminski.
Da poesia que apetece o jovem da época, lutando por direitos políticos, contra a crise, com a noção de um mundo em guerra, a poesia era também palatável para crianças menores (eu mesma comecei a lê-lo no fundamental por acaso na biblioteca da escola e muito do meu amor por poesia e querer ser escritora e poeta vem disso) como no clássico "A Lua foi ao cinema" ou seus poemas gráficos imagéticos "o inseto no papel insiste".
Para os mais velhos, que pouco querem/conseguem ler, Paulo é um acalento. É fácil a uma primeira vista cansada, mas carrega histórias que essas pessoas também viveram e gostam de ouvir.
Para os amantes da arte clássica, Paulo se utiliza dos termos como ponto de encontro entre o eu(-lírico) sagaz e o erudito e se encontra, não provinciano como diz, mas eternamente brasileiro, o que talvez cause espanto a ele mesmo num momento mais consciente de si, onde se vê plural, integrado de forma orgânica ao nosso dia a dia e cultura e "ex-estranho" a si mesmo. Livro póstumo que carrega muita vida.
No mais, Toda Poesia é uma obra completa não pelo conjunto de obras recolhidas, mas por toda a poesia presente na vivência do Paulo que transportou em cada escolha de palavras até nós. Quem dera pudéssemos ter tido mais obras, mais livros, mais anos, mais vida, no entanto, temos isso e basta a toda poesia.
"VAI VIR O DIA
EM QUE TUDO QUE EU DIGA
SEJA POESIA"
E veio. Foi e ficou.