Isa 25/08/2016
Toda Poesia de Paulo Leminski
Preciso admitir que nunca fui uma grande leitora de poesia. Nem grande, nem pequena, pra falar a verdade. Sempre consumi com avidez tudo que o mercado infanto-juvenil produzia, e sei de cór e salteado os plots de mais romances adolescentes do que você pode imaginar. Mas poesia? Não me matem, mas sempre achei algo bobo, e minha relação com a poética nunca passou dos poemas consagrados e que todo mundo conhece, que vinham nos livros didáticos do ensino fundamental e médio. Poemas famosos, conhecidíssimos, de escritores incríveis, mas que não conversavam comigo até então. Versos lindos, mas que não me chamavam.
Esse chamado, eu acho, não se explica. Assim, sem mais nem menos, uma chuva de poesia entrou na minha vida. Há um ano conheci algumas pessoas que escrevem e respiram esse gênero, e devo dizer que a culpa de estar na mesma frequência que a poesia, em parte é delas. A outra é da curiosidade, e a terceira é do Leminski.
Perdi a conta de quantas vezes entrei na Livraria da Travessa e vi um exemplar de "Toda Poesia" pomposo, se destacando dos demais, me chamando, pedindo pra ser lido. A princípio não me rendi a sedução da capa laranja, o bigode peculiar estampado, se oferecendo pra mim. Poesia? Eu que não.
Mas o mundo, esse doidinho, ele gira, da voltas, e os livros mudam de lugar nas prateleiras das livrarias. Mesmo assim, laranja, nada discreto, um dia me vi com "Toda Poesia" nas mãos. Um exemplar que trazia todas as obras autorais do poeta curitibano em 421 páginas. Como recusar aquele contato? Como dizer não, sendo eu objeto-sujeito de tão bonito encontro?
Pois eu recusei. Meu sol em capricórnio e o preço que custava um livro com "meia-dúzia" de poesia, não me deixou voltar pra casa com a sacola bonitinha que faz quem sai da loja com um livro novo se sentir especial. Arrisquei o PDF, e desastre. Tentei pegar emprestado, mas eu sabia que se conseguisse, não seria capaz de devolver sem padecer de uma dor profunda, principalmente a de admitir que eu estava interessada em poesia.
Em uma quarta-feira nada excêntrica, sem aviso, sem nem ter tempo de pensar a respeito, arrematei o livro por uma pechincha na faculdade. Usado, mas não importava: Eu gosto de imaginar onde os livros de segunda mão moraram antes de estarem comigo. Desde então li, li de novo, e reli. Entre poemas curtos, líricos, haicais e poesia concreta, as palavras irônicas de Leminski saltaram das páginas do livro e se espalharam pelo meu quarto, entre minhas fotografias, pelas minhas roupas, e no meu dia-a-dia.
A edição de 2013 da Companhia das Letras traz seis livros do autor: quarenta clics em curitiba (1976), caprichos & relaxos (1983), distraídos venceremos (1987), la vien close (1991), o ex-estranho (1996), e winterverno (2001), sendo os três últimos publicações póstumas. De toda as obras que a publicação traz, distraídos venceremos trouxe as poesias com que mais me identifiquei, e com as quais desenvolvi uma relação especial.
É difícil dizer pra alguém sobre o que exatamente é um livro de poesia. A relação de sentido é uma entre o poeta e os versos que escreveu, e outra entre o leitor e o poema. O resultado do encontro depende da frequência em que está cada leitor, e do quão disposto está a se entregar pros versos das páginas que tem em mãos.
Felizmente, posso dizer que Toda Poesia de Paulo Leminski, nos demos muito bem, e trocamos energias muito boas durante o tempo que tiramos para conhecermos um ao outro. A leitura ganhou cinco estrelas (✪✪✪✪✪), e minha relação com meus poemas favoritos do autor se renova a cada vez que os encontro, entre uma calmaria e outra.
site: www.avalancheliteraria.com.br