Jaqueline 21/10/2013“Toda Poesia”, como seu nome indica, reúne toda a obra poética do grande curitibano Paulo Leminski, um dos homens de letras mais importantes do país. Compositor, poeta, publicitário, biógrafo, professor, escritor, Paulo influenciou artistas e músicos, contribuindo com nomes como Gilberto Gil, Novos Baianos, Caetano Veloso e Moraes Moreira.
A edição da editora Companhia das Letras justifica o hype em torno da obra, que foi lançada no início deste ano e integrou diversas listas de mais vendidos. Com uma capa vibrante, a obra é bem acabada e conta com um excelente trabalho de texto, com diferentes tipologias que ressaltam a composição gráfica de algumas das poesias do autor. Dono de uma visão ímpar sobre as palavras e suas rimas, o poeta tem seu trabalho reunido nas mais de 400 páginas deste livro, que traz seu marcante bigode grosso na capa e uma apresentação da obra escrita por Alice Ruiz S, viúva de Paulo.
tenho andado fraco
levanto a mão
é a mão de um macaco
tenho andado só
lembrando que sou pó
tenho andado tanto
diabo querendo ser santo
tenho andado cheio
o copo pelo meio
tenho andado sem pai
yo no creo en caminos
pero que los hay
hay
(pg. 70)
Leminski consegue ser pop e profundo, ágil e delicado, sutil e voraz. Trabalha com brilhantismo e técnica, raciocínio rápido e uma linguagem ligeira, que não admite excessos – cada poema contém apenas o extremo necessário para ser completa em si mesma. Trabalhador árduo da literatura, Leminski admite todo o esforço físico e criativo da escrita, passando longe da frivolidade de quem admite o trabalho poético como simples “expressão da alma”.
Culto e intenso, o autor brinca com as palavras, suas origens e seus significados, como em “overture la vie em close”, poema que integra o livro “La vie en close”, uma das minhas seções prediletas de “Toda Poesia”. Vale a pena ler esta obra devagar, abrindo uma página ao acaso e seguindo os trilhos de Paulo Leminski. Se você ainda não teve o prazer de ler “Toda Poesia”, faça-o imediatamente!
estupor
“esse súbito não ter
esse estúpido querer
que me leva a dividar
quando eu devia crer
esse sentir-se cair
quando não existe lugar
aonde se possa ir
esse pegar ou largar
essa poesia vulgar
que não me deixa mentir”
(pg. 249)
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http://up-brasil.com/resenha-de-livro-toda-poesia-paulo-leminski/