Lucas Rabêlo 24/01/2023
Um misto entre o óbvio e o nunca visto
Leminski definiu a sua poesia, contraditória, nos paradoxais anos 60-70 - ditadura, repressão, cultura e resistência - como definiu as demais pré-futuras e futuristas existentes. Na fuga do parnasianismo “chic”, quisto e veículo do antro acadêmico e literário-literal, pajeou sua própria criatividade e expressionismo curitibano: ora é sobre o amor, o amar, a dor, a inconsistência no viver, suas indexações, nervosismos, subjetivismos, aforismos e, quando em tempo, flerte ao publicitário, na rapidez e fluência. Reuniu no cerne em vida o essencial para o pós-vida, eternamente resgatado neste único volume.
O seu intento vinha das interpolações criativas e mentais que afligiam a luminosidade talentosa que era posta à prova em papel, na máquina, na composição total. Escreveu poucos títulos até, mas de trajetória infinita, contínua no marulhar das cabeças poéticas de seus admiradores. Consumiu o trecho, o extenso, os mais elaborados, que logo desertaram da comumente poética vista nas páginas líricas e rítmicas de colegas idem, e escorregões, que desfazem a aura de perfeição que ele detestaria macular – sabia o que era, e humano qual seus endereçados leitores, preenchia de notáveis fraquezas suas mãos maestras. Mas sempre um autor em cheio.
Suas coleções dignificam tua glória erudita pop e contraventora, ainda admirador, ou precursor, do coloquialismo proseado, que até no soar piegas, o óbvio, merece o visto e o revisto. Incompatibilizou seus títulos, “Caprichos e Relaxos”, “Distraídos Venceremos” e o mímico “Não fosse isso e era menos, não fosse tanto e era quase”, inferindo neles traços da não seriedade para ultrapassar a zona mortuária do metódico fazer-se poeta. Era sensível, desaforado, brincalhão, apaixonado, vivente; e emocionados - saímos nós. Um pouquinho de tudo, para todos. Continuem o invocando.